sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Geração

Filme de estreia do diretor Andrzej Wajda, Geração (Polônia, 1954) guarda qualidades cinematográficas. Realizado sob o prisma do neorrealismo, narra a mobilização antifascista na Varsória ocupada pelos nazistas na Segunda Guerra Mundial. O drama, de bela fotografia, foca um grupo de jovens comunistas que, com bravura e autossacrifício, combate as forças invasoras. No elenco, o novato ator e futuro diretor Roman Polanski – assim como Wajda, formado na escola de cinema de Lodz.

Em 1942, a barbárie alemã esmaga a arruinada capital polonesa. Humilhações, torturas e assassinatos eram habituais. Nesse contexto, um jovem operário entra em contato com a resistência comunista. Movimento organizado na clandestinidade, tem a tarefa de enfrentar os nazistas e seus colaboradores locais. Além da luta pela causa da liberdade, o personagem conhece o amor e a dor da perda.


Ao fundo, o jovem ator e futuro diretor Roman Polanski

Wajda utiliza sequências de grande carga dramática para contar a história. Enquanto vão ao trabalho, os poloneses passam por homens enforcados – é necessário, para o dominador, provocar o medo. Ao lado do Gueto de Varsóvia em chamas, o parque de diversões dos nazistas continua a funcionar. No gueto estava confinada a população judaica. Em meio à fome, doenças, morte e deportações, explode o levante contra as tropas inimigas. A película exibe o auxílio dos revolucionários aos insurretos.

Após Geração, Wajda enveredou-se por outras linhas políticas e fontes de inspiração estéticas. Para efeito de ilustração, em Cinzas e Diamantes (1958) há influência direta do cinema americano, notadamente de Cidadão Kane.

A respeito das manifestações artísticas da Europa Oriental pró-soviética, uma observação do historiador britânico Eric Hobsbawm, no livro A Era dos Extremos, vale ser reproduzida. "(...) mesmo onde, como na Polônia, a rejeição do regime existente se tornou total, todos, com exceção dos mais jovens, conheciam o suficiente da história de seu país depois de 1945 para captar os tons de cinza além do preto e branco da propaganda. É isso que dá uma dimensão trágica aos filmes de Andrzej Wajda (...)", afirmou.   

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Lotna

Quando foi invadida pela Alemanha nazista em 1º de setembro de 1939, data que assinala o começo da Segunda Guerra Mundial, a Polônia mostrou forte oposição. O país utilizou, entre outros recursos para reagir à agressão, a obsoleta tática da carga de cavalaria.  Para contar esse evento, o consagrado diretor Andrzej Wajda realizou o drama Lotna (Polônia, 1959).

Após ser incorporada a um regimento de cavalaria, a bela égua Lotna passa por vários donos. Objeto de cobiça para alguns, símbolo de azar para outros, a trajetória do animal acompanha a da unidade militar. A morte vigia a todos.


História da cavalaria polonesa no início da Segunda Guerra Mundial

No primeiro contragolpe, efetuado de surpresa sobre a infantaria alemã, o esquadrão, com sabres e lanças, obtém resultados positivos. Mas é repelido pelo fogo de artilharia. Na próxima escaramuça,  agora contra tanques, não existe chance de êxito.  Além do aspecto heróico e lírico, Wajda buscou salientar a cavalaria como elemento cultural de resistência da população local. O cavalo, aliás, foi usado amplamente por exércitos – o germânico e o soviético, por exemplo –  como meio de transporte durante o conflito.

À época, os poloneses tinham um exército considerado numeroso (cerca de um milhão de homens) e uma força aérea de 1.200 aviões. Não haviam, porém, preparado adequadamente a motorização de suas forças terrestres. Menos de três semanas depois de ser invadida pelo Oeste, tropas soviéticas ocupam o Leste da Polônia.  Sob o jugo nazista, cidades são arrasadas. Liberais, socialistas, comunistas e democratas são mortos. A comunidade judaica é dizimada.

Temas históricos e políticos dominam a obra de Wajda, formado na escola de cinema de Lodz. Geração (1954), Kanal (1957), Cinzas e Diamantes (1958), O Homem de Mármore (1976) e Danton (1983) são modelos da arte do realizador. Wajda, premiado em vários festivais, passou por distintas fases: engajado com ressalvas na construção do socialismo polonês, crítico ferrenho do stalinismo e por fim adepto da federação de sindicatos Solidariedade, movimento operário antissocialista – ele chegou a ser eleito parlamentar pela organização.

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Marcado pela Sarjeta

O boxe rendeu momentos marcantes no cinema. Entre os pontos altos está Marcado pela Sarjeta (Somebody Up There Likes Me, Estados Unidos, 1956), filme que consagrou Paul Newman como talentoso astro ascendente de Hollywood. Dirigido por Robert Wise, o drama narra a trajetória do lendário Rocky Graziano, da delinquência ao título mundial na categoria médio-ligeiro – vida errática é algo comum no mundo dos pugilistas. A princípio, o papel central caberia a James Dean. Porém, o ator morreu antes das gravações.

Nascido em uma família pobre de Nova York, Rocky (Newman) cresceu atormentado pelo pai, ex-boxeador frustrado e bêbado. A via criminosa transforma-se em meio natural de sobrevivência para o jovem. Bom de briga, faz parte de uma pequena gangue – um dos integrantes é Steve McQueen, não creditado. Rocky passa por reformatórios e pelo rigor dos trabalhos forçados na penitenciária. Ao sair, durante a Segunda Guerra Mundial, é convocado para o Exército. Depois de agredir um capitão, deixa as Forças Armadas, de forma desonrosa.

Por 10 dólares, aceita ser sparring. Surpreende, vencendo o adversário. Surge novo caminho: tornar-se pugilista profissional. Casa-se com a bela Norma (Pier Angeli), que não gosta de vê-lo lutar.

O recomeço é difícil. O passado o assombra. Ao se recusar a entregar um combate, acaba envolvido em um escândalo de fraude. Há sujeira no submundo do boxe. Mas ele não tem queixo de vidro, e ir para as cordas não significa derrota. Chegou a hora de desafiar o detentor do cinturão.


Papel do campeão Rocky Graziano consagrou Paul Newman

 Diretor de O Dia em que a Terra Parou, O Canhoneiro do Yang-Tsé, Amor, Sublime Amor e do piegas A Noviça Rebelde, Wise realizou, também a respeito do esporte,  Punhos de Campeão. Antes de dirgir, foi montador (Cidadão Kane).

Pode-se mencionar, por fim, outros exemplos notáveis de longas sobre boxe: O Campeão, Rocky, um Lutador e Touro Indomável. Sobre este último, obra-prima do cineasta Martin Scorsese, pesa influência visível de Marcado pela Sarjeta.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

A Cor da Romã

Na década de 1960, desvencilhado das exigências do realismo socialista – movimento artístico oficial do regime soviético –, o cineasta  Sergei Paradjanov realiza A Cor da Romã (União Soviética, 1968), filme de extraordinário vigor estético. A obra narra, de forma simbólica, a história de Sayat-Nova, poeta, músico e trovador místico cristão armênio do século 18. Porém, como explica o realizador na introdução, é uma história sobre a dimensão interior do bardo.

O longa é dividido em partes bem delimitadas, destacando-se a infância, a juventude, a permanência no monastério e a morte do personagem. Cada enquadramento tem profundo apuro pictórico. Na sequência de abertura, aparecem, sobre a toalha branca, três romãs derramando o suco vermelho e um punhal manchado de sangue.  

Além do concerto de imagens e sons, Paradjanov usa trechos da obra de Sayat-Nova para articular as fases da vida do monge.  "Eu sou o homem cuja vida e alma são tortura." Ou "estou vagando, queimado e ferido, e não encontro refúgio (...)".


Concerto de imagens e sons, o filme conta a vida de um poeta armênio

Pela abordagem cinematográfica heterodoxa e por valorizar a diversidade étnica, A Cor da Romã sofreu censura das autoridades soviéticas. Acusado de homossexualismo e de "propagar a pornografia", Paradjanov foi condenado em 1973 a cinco anos de trabalhos forçados na Sibéria. Intelectuias e ativistas políticos se manifestaram pela libertação. Entre eles, os cineastas Luis Buñuel, Jean-Luc Godard e François Truffaut. Paradjanov voltou a filmar em meados dos anos 80.

Filhos de armênios, Paradjanov nasceu em 1924, na cidade de Tiflis, atual Tbilisi, na Georgia. Morreu em 1990. Deixou forte legado artístico.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Apocalypse Now

Delirante, Apocalypse Now (Estados Unidos, 1979) é uma das melhores contribuições cinematográficas a respeito da Guerra do Vietnã. Realizado por Francis Ford Coppola, o filme, adaptação distante do romance O Coração das Trevas, de Joseph Conrad (1857-1924), recebeu o merecido reconhecimento de público e crítica. Descomunal e sensacional, a película tem imagens, sonoplastia, interpretações, roteiro e direção primorosos. No elenco, Martin Sheen, Marlon Brando, Robert Duvall, Dennis Hopper, Harrison Ford e Laurence Fishburne.

Durante o conflito asiático, o capitão Willard (Sheen), da inteligência norte-americana, recebe a missão de encontrar e matar o coronel Kurtz (Brando). Kurtz, oficial de elite condecorado, enlouquece, embrenhando-se na selva do Camboja. Lá, arregimenta seguidores. Esse fiel exército, cujos integrantes idolatram o líder, pratica uma séria de atrocidades.

Recrutado durante um porre no quarto do hotel, Willard viaja escoltado por quatro militares. Dentro de um barco, navegam pelo interior do Vietnã. Enquanto o capitão examina documentos referentes à operação, o grupo depara-se com situações absurdas – algo natural na guerra. Ao som de muito rock'n'roll – Rolling Stones, por exemplo – e de Wagner, a embarcação aproxima-se do alvo. A medida que reflete sobre o desafio, Willard vê sua admiração por Kurtz aumentar. Por que eliminar esse homem?, indaga-se.


Sheen, em primeiro plano. À esq., o alucinado Hopper

Cenas célebres alimentam o longa. A trama abre-se com helicópteros bombardeando, com disposivos de napalm, uma floresta. Ao fundo, a canção The End, da banda The Doors. Em outro momento, Willard encontra-se com o tenente-coronel Bill Kilgore (Duvall), caubói que gosta de surfe e adora "cheiro de napalm pela manhã". À frente de tropa embalada pela música A Cavalgada das Valquírias, de Wagner, Bill Kilgore comanda ataque de helicópteros contra aldeia vietcongue. Em posto avançado das forças norte-americanas, o combate, com imagens noturnas alucinantes, desenvolve-se sem que os soldados saibam quem está no comando.

A película é cercada de fatos curiosos. Sheen sofreu enfarte. Brando, que cobrou uma fortuna pelo trabalho, pediu para que fosse disfaçada sua obesidade – os poucos minutos em que aparece na tela são geniais. Hopper, no papel do repórter fotográfico, atua sob efeito de LSD.

Apocalypse Now ganhou a Palma de Ouro, em Cannes, o Oscar nas categorias Melhor Fotografia e Melhor Som e o David di Donatello, na Itália, no item Melhor Diretor de Filme Estrangeiro.    

Em 2001, foi lançado Apocalypse Now Redux, versão com uma hora a mais de duração.
 

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

O Mundo Odeia-me

O homem é "magro, tem 28 anos, veste uma camisa escura, calça cinza escura e uma jaqueta de couro preta. Sua pálpebra direita é paralisada". Essa é a descrição de Emmett Myers, o assassino psicopata do clássico noir O Mundo Odeia-me (Estados Unidos, 1953), dirigido por Ida Lupino. Teria sido melhor usar o significado do título original, The Hitch-Hiker, o caroneiro. 

A narrativa e as atuações do elenco central impressionam. Extraído de fatos reais, a trama arrebata desde a primeira cena. De pronto, sem rodeios, o tom da obra não deixa dúvidas ao espectador. 

O foragido  Emmett Myers (William Talman) busca abrigo no México. Deixa rastro de sangue e terror. No caminho, recebe carona dos amigos Roy Collins (Edmond O'Brien) e Gilbert Bowen (Frank Lovejoy),  que viajam para pescar. Armado, sentado no banco de trás do carro, logo rende as vítimas. Sob a mira do revólver, devem levá-lo, por estradas poeirentas e marginais, a Santa Rosalia, cidade da península da Baixa Califórnia, no noroeste do país vizinho.

Os olhares de Roy e Gilbert carregam o medo da morte – a existência deles, na lógica de Myers, somente está condicionada às necessidades da fuga. A polícia caça,  cerca, trabalha com pistas. Tenta capturar o bandido e salvar os reféns.


Assassino aterroriza dois homens em viagem pelo México

Emmett alega que a vida, inclemente, o conduziu ao crime. Rejeitado pelos pais, tudo o que conquistou foi resultado do próprio esforço. A sociedade o repele. Daí o nome O Mundo Odeia-me.  

Nascida na Inglaterra, Ida Lupino mudou-se para os Estados Unidos na década de 30. Tornou-se respeitada atriz, roteirista e diretora. Mais que um rosto bonito da grande tela.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

A Ilha do Tesouro

Piratas, mapa do tesouro, rum, motim a bordo. Esses são alguns dos elementos de A Ilha do Tesouro, clássico romance do escocês Robert Louis Stevenson 1850-1894). Pela lente do diretor Byron Haskin (conferir A Guerra dos Mundos e A Selva Nua),  A Ilha do Tesouro (Treasure Island, Estados Unidos, 1950) é marco na vasta produção do estúdio de Walt Disney.

No século 18, na costa leste da Inglaterra, o pequeno Jim Hawkins (Bobby Driscoll) cuida da estalagem Almirante Benbow. Por golpe do destino, um mapa do tesouro cai em suas mãos. Começa a trepidante aventura em busca da riqueza, fruto das pilhagens do temido capitão J. Flint.

Auxiliado por ambiciosos moradores da região, Jim embarca no navio Hispaniola. Nesse contexto, surge o personagem mais famoso da história, o pirata perneta Long John Silver (Robert Newton). Silver, que havia sido contramestre de Flint, reúne integrantes da antiga tripulação para ingressar no Hispaniola. Na roupagem de humildes marinheiros, são admitidos na embarcação. Arquétipo do pirata, o robusto e eloquente Silver carrega o papagaio no ombro, usa a muleta com desembaraço e, sobretudo, sabe mentir e convencer.


Jim e o impagável pirata Long John Silver

Os companheiros de Jim descobrem que Silver planeja assumir o controle do barco e tomar o mapa. Os dois grupos se enfrentam. Em maior número, os criminosos conquistam o Hispaniola e içam a Jolly Roger, a bandeira pirata – pano negro, com caveira e dois ossos cruzados. Jim e os outros refugiam-se em um casebre na ilha, onde sofrem ataques dos homens de Silver.

Depois de muita pólvora, de Jim mostrar extrema coragem,  Long John Silver revela contradições de caráter. O fim guarda surpresas ao espectador.

Uma obra para todas as idades.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

O Professor Aloprado

Festejado romance da literatura ocidental, o sombrio O Médico e o Monstro, do escocês Robert Louis Stevenson (1850-1894), transformou-se na melhor comédia de Jerry Lewis. Dirigido, protagonizado e roteirizado pelo artista, O Professor Aloprado (The Nutty Professor, Estados Unidos, 1963) subverte a história original.

No livro, o fraterno doutor Henry Jekyll bebe substância que o transforma no maléfico e deformado Edward Hyde. No filme, o tímido, fraco e desengonçado professor de química Julius Kelp (Lewis) ingere produto que muda a personalidade. Passa a ser o expansivo, elegante e carismático Buddy Love (Lewis), cantor e pianista performático. Na pele de outro homem, seduz a linda aluna Stella Purdy (Stella Stevens, de O Destino do Poseidon), paixão secreta do professor.


Jerry Lewis subverte a história de Stevenson

A situação favorece Kelp. Popular na boate que frequenta, Love conquista admiradores. O rumo das coisas, porém, começa a desagradar o herói. Os efeitos da fórmula química fogem do controle. Enquanto Love interpreta uma canção, a voz de Kelp emerge no salão, surpreendendo a audiência. A descoberta da verdade parece é inevitável.

Obra-prima do humor, O Professor Aloprado tem cenas sensacionais. Completamente desajeito, Kelp dança no baile estudantil, enfiando o braço no ponche ao conversar com Stella. Para desenvolver músculos, entra em uma academia. Fica estropiado, com os braços esticados até o chão.

Em 1996, Eddie Murphy realizou remake do longa. O Professor Aloprado de Murphy foi sucesso de bilheteria.

sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Moby Dick

Desfigurado pela baleia Moby Dick, o capitão Ahab busca vingança a qualquer custo. Obstinado, singra os mares atrás do monstro branco. O célebre romance de Herman Melville (1819-1891) tornou-se um filme sensacional nas mãos do diretor John Huston. Com roteiro do escritor Ray Bradbury (Fahrenheit 451), Moby Dick (Estados Unidos, 1956) representa momento especial na carreira do astro Gregory Peck.

Num porto da costa americana, baleeiro é preparado para zarpar. À época, assim como hoje, a caça ao mamífero significava negócio altamente rentável, além de ser modo de vida de gerações de marinheiros. Tripulação escolhida, a população local ouve o poderoso sermão do reverendo Mapple, interpretado por Orson Welles – diretor e ator genial. Chega a hora de partir.

O capitão Ahab (Peck) demora a aparecer na tela. Percebe-se a presença do comandante unicamente pelo andar no interior do navio – sonoplastia simples e eficiente. Quando surge diante do espectador e da marujada, fica claro o motivo da raiva que alimenta por Moby Dick: mutilado em ataque da fera, Ahab não tem a perna esquerda. No lugar, o osso de uma baleia.

Com sangue e arpões, a guarnição, ante o ensandecido capitão, jura de morte o cetáceo. Velozes sequências de caça impressionam. Enquanto lida com o descontentamento dos subordinados, calor e tempestades, Ahab mantém-se firme no propósito. Sem dúvida, Moby Dick deve perecer, mesmo que para isso tenham todos o mesmo destino.


Gregory Peck  interpreta o ensandecido capitão Ahab

Ator, diretor e roteirista, John Huston gravou fundo seu nome na arte cinematográfica. Estreou na direção em 1941, ao lançar a obra-prima Relíquia Macabra (ou O  Falcão Maltês). Novamente com Humphrey Bogart no elenco, dirigiu, em 1948, o próprio pai, Walter Huston, no inesquecível O Tesouro de Sierra Madre. Huston filmou como poucos os perdedores. O último trabalho à frente das câmeras ocorreu em 1987. Baseado em conto do irlandês James Joyce (1882-1941), Os Vivos e os Mortos é comovente reflexão sobre a morte.

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

A Selva Nua

Mais conhecido por dirigir, em 1953, A Guerra dos Mundos, Byron Haskin realizou outras obras de fôlego. Entre elas, A Selva Nua (The Naked Jungle, Estados Unidos, 1954), sobre o ataque de um exército gigantesco de formigas. Charlton Heston e Eleanor Parker interpretam os papéis principais. Dois anos depois de A Selva Nua, Heston atuou no célebre Os Dez Mandamentos.

América do Sul, 1901. No interior da região amazônica, a bela americana Joanna (Eleanor) viaja para conhecer o marido Christopher Leiningen (Heston) – o casamento ocorreu via procuração. Rude proprietário rural, espécie de grileiro, Leiningen mantém a plantação de cacau sob rígido controle disciplinar. Com a exploração do trabalho indígena,   conquistou a terra e fez riqueza. Solitário, quer mulher, família, filhos.

Após desentendimentos, os dois decidem se separar, mesmo existindo forte atração entre ambos. Enquanto descem o rio Negro – atenção para a erótica sequência em que Leiningen passa óleo nas costas e braços de Joanna –, surgem milhões e milhões de formigas no caminho. No avanço, elas arrasam toda a vegetação, matam os animais e os homens, tudo o que há de vivo no caminho.

Leiningen e Joanna retornam à casa a fim de enfrentar, juntos, a onda de insetos. Eles formam um bloco de 30 quilômetros de comprimento por três quilômetros de largura. Apenas fogo, água e coragem podem barrá-los e salvar os bens.


Heston enfrenta exército gigantesco de formigas

O húngaro George Pal produziu A Selva Nua. À frente das câmeras, Pal realizou, em 1960, a mais famosa versão de A Máquina do Tempo.

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Tubarão

Tubarão (Jaws, Estados Unidos, 1975) foi o primeiro sucesso retumbante de Steven Spielberg. Marcou época,  transformando-se em ícone do suspense. Com atuações competentes de Roy Scheider (Maratona da Morte), Robert Shaw (Golpe de Mestre) e Richard Dreyfuss (Além da Eternidade) e música-tema eficiente, o longa envolve plenamente espectador. A obra venceu o Oscar nas categorias Melhor Trilha Sonora, Melhor Montagem e Melhor Som.

Numa pequena cidade do litoral norte-americano, o corpo estraçalhado de uma garota é encontrado na praia. O chefe da polícia  Martin Brody (Scheider) começa a investigar. Após constatar que a mulher fora vítima de um tubarão, tenta interditar a costa, a fim de evitar novos ataques. Porém, o prefeito não aceita a medida, pois ela afugentará os turistas.

Brody recebe ajuda do especialista Matt Hooper (Dreyfuss). Novos óbitos obrigam o poder público a contratar Quint (Shaw), experiente e temperamental pescador, dono do barco Orca.   Não há mais dúvida, segundo Hooper: o responsável pelas investidas é um gigantesco tubarão-branco. Os três rumam ao mar, com o objetivo de aniquilar a fera, sem recuar diante do perigo.


O combate contra a fera contém grande dramaticidade

Durante a viagem, conflitos de personalidade surgem entre Quint e Hooper – o homem do mar, "pobre", versus o homem da cidade, "rico". Apesar da dicotomia, brota o senso de camaradagem, essencial para enfrentar o desafio. O embate direto contra o animal conduz a película ao clímax, com incrível dramaticidade. 

Antes de Tubarão, Spielberg realizou, em 1971, o excelente Encurralado. Depois do triunfo de 1975, alcançou novos êxitos, como Os Caçadores da Arca Perdida e E.T., o Extraterrestre. Por vezes, deve-se admitir, aspectos pueris prejudicam o resultado final de alguns trabalhos do cineasta.

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Suplício de Uma Saudade

Os astros William Holden e Jennifer Jones formam o par do drama romântico Suplício de Uma Saudade (Love Is a Many Splendored Thing, Estados Unidos, 1955). Dirigido por Henry King, teve boa acolhida, arrebatando o Oscar nas categorias Melhor Figurino Colorido, Canção Original e Trilha Sonora.  King havia obtido sucesso com Jennifer ao dirigi-lá no premiado A Canção de Bernadette, em 1943.

A ação começa no ano de 1949, em Hong Kong, à época domínio do Reino Unido. Enquanto os comunistas estão prestes a conquistar a China, contingentes de inconformados com o futuro regime partem para o pequeno território, em busca de abrigo. Nesse contexto, o correspondente americano Mark Elliott (Holden) conhece a médica euroasiática Han Suyin (Jennifer). Às voltas com doentes e pautas jornalísticas, os dois se apaixonam. Há, entretanto, obstáculos a vencer.


Jennifer e Holden em cena romântica no clássico de King

Mark é casado, enquanto parentes chineses de Suyin se opõem a que ela, viúva, contraia matrimônio com um ocidental. Ele tenta o divórcio, mas a esposa recusa. A elite britânica, fleumática e hipócrita, não admite que o relacionamento se torne público. Sob pressão, Suyin perde o emprego.

Chamado a cobrir a Guerra da Coreia – conflito emblemático da Guerra Fria –, Mark viaja ao front. Na promessa de retorno, o compromisso de, livres, viverem juntos. Porém o futuro muitas vezes não obedece o desejo dos amantes.

A música  Love is a Many Splendored Thing embeleza as cenas mais marcantes do longa. Frank Sinatra e Nat King Cole gravaram a canção.

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Midway

Com atores de primeira e grandes recursos materiais, o diretor Jack Smight realizou o ótimo Midway (Estados Unidos,1976). O filme conta, de forma extremamente realista, a Batalha de Midway, em junho de 1942, durante a Segunda Guerra Mundial. Nela, os Estados Unidos, mesmo inferiores numericamente, impuseram uma derrota crucial sobre a Marinha japonesa no oceano Pacífico. Charlton Heston (Ben-Hur), Henry Fonda (Vinhas da Ira), Glenn Ford (Gilda), Robert Mitchum (O Mensageiro do Diabo) e Toshiro Mifune (Os Sete Samurais) são alguns dos nomes mais conhecidos do elenco.



Midway é uma ilha no Pacífico. O pequeno território era peça fundamental na cadeia de comunicação dos Estados Unidos durante o conflito. Se apossar dele significava ganho importante para as pretensões de Tóquio de domínio.

A inteligência estadunidense suspeita das intenções nipônicas. Por meio de cálculo brilhante, define a provável localização da frota inimiga, liderada pelo almirante Yamamoto (Mifune). O almirante Nimitz (Fonda) dá a ordem de avançar as forças navais para surpreender os opositores. Além de várias navios de apoio, o Japão tem na área quatro porta-aviões.

Esquadrões japoneses golpeiam a guarnição de Midway. Guiados pelos almirante Raymond Spruance (Ford), os Estados Unidos contra-atacam. Após manobras audaciosas e de erros dos oponentes, o resultado foi favorável aos norte-americanos: os quatros porta-aviões são afundados – o país perde um, o USS Yorktown, no qual o capitão Matthew Garth (Heston) tem papel destacado.

Na batalha, as duas armadas não se enfrentaram diretamente – somente por meio de aeronaves. O desempenho em Midway mudou a maneira de os Estados Unidos pensarem seus próximos passos. Ao invés de se concentrar na construção de cruzadores, passam a priorizar os porta-aviões. Até hoje, essa espécie de belonave integra o núcleo central da estratégia naval da superpotência.  

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

O Selvagem

O Selvagem (The Wild One, Estados Unidos, 1953) é um dos filmes que consagraram o mito Marlon Brando. Após atuar nos clássicos Uma Rua Chamada Pecado, Viva Zapata! e Sindicato de Ladrões, os três do cineasta Elia Kazan, Brando foi escalado para protagonizar o drama realizado pelo diretor húngaro László Benedek. Ao pilotar uma motocicleta modelo Triumph Thunderbird 6T, vestir jeans e jaqueta de couro preta, Brando lançou moda, influenciando gerações de jovens.

No drama de Benedek, Brando interpreta o "rebelde sem causa" Johnny Strabler, líder da gangue de motociclistas Black Rebels Motorcycle Club. Eles invadem uma pequena cidade, onde, ao som de bebop, entornam muita cerveja e provocam distúrbios. Johnny, que não gosta de policiais, é atraído pela garçonete Mary Murphy (Kathie Bleeker), filha de um agente da lei.


Personagem de Brando influenciou gerações

O perfil do personagem central é delineado de forma clara. Por exemplo, no balcão Johnny pede cerveja a Mary. Ela abre a garrafa, pega o copo e oferece para Johnny. Mas ele bebe direto do gargalo. Apesar da desordem, muitos moradores têm simpatia pelos arruaceiros.

Novas confusões surgem quando aparece no local o grupo de Chino (Lee Marvin), ex-parceiro de Johnny. Brigam. A luta, que envolve dois gigantes do cinema, é antológica. Depois de tantas confusões, alguns homens se unem para pegar Johnny e espancá-lo.  Injustamente, é acusado de matar um idoso.

Entre tantos momentos memoráveis, deve-se destacar, por fim, a primeira cena do longa. Na estrada vazia, enquanto o narrador (Brando) introduz a história, os motoclistas vão se aproximando velozmente. Brando surge na tela.

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Os Selvagens da Noite

Os Selvagens da Noite (The Warriors, Estados Unidos, 1979), de Walter Hill, ganhou status de filme cult – virou video game. Nele, o diretor aborda o universo tribal das gangues de Nova York, com seus elementos singulares de identificação.

Cyrus, chefe da maior maior associação criminosa da cidade, Gramercy Riffs, convoca representantes das demais  para uma assembleia. Ele afirma que as gangues unidas – elas brigam entre si – são mais fortes que a polícia. Durante o discurso, é morto a tiro. Injustamente, os integrantes dos Warriors (Guerreiros) são acusados, pelos verdadeiros autores do ataque, de assassinar Cyrus.

A partir de então, perseguidos por outros bandos, os guerreiros – eles utilizam coletes marrons, sem camisa por baixo –  tentam escapar para o bairro de Coney Island, base do grupo. Além de guiar a fuga madrugada adentro, o impávido líder Swan (Michel Beck) tem de superar a vaidade do rival Ajax (James Remar), que quer assumir o posto.

Em ritmo frenético, os guerreiro enfrentam a fúria dos adversários. Dois notáveis combates ocorrem quando lutam contra os jogadores de beisebol, que carregam bastões e têm os rostos pintados, e os jovens que andam de patins, com macacões e armados de correntes. Por onde passam, os heróis deixam a letra W, de Warriors, pichada. A jornada termina com desfecho surpreendente.
 

Filme tornou-se cult. Ação tem ritmo frenético

De certa forma, a película tem  paralelo com o poema épico Odisseia, narrativa homérica sobre o regresso para casa de um dos personagens centrais da Guerra de Troia. No retorno, o grego Odisseu (Ulisses, na mitologia romana) passa por diversas provações. Ajax, aliás, foi derrotado por Odisseu durante os eventos troianos.

Após Os Selvagens da Noite, a carreira de Michael Beck jamais foi a mesma. Em 1980, atuou no musical Xanadu, com Olivia Newton-John e Gene Kelly. A película teve reduzida receptividade junto ao público. A crítica fulminou a obra.

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Guerra e Paz

O diretor King Vidor assumiu o desafio de levar às telas o gigantesco romance Guerra e Paz, do russo Liev Tolstói (1828-1910). Mesmo com certa distância do texto original, o épico Guerra e Paz (War and Peace, Estados Unidos-Itália, 1956) recebeu o reconhecimento merecido do público e da crítica. Foi por muito tempo, em termos absolutos, a obra mais cara do cinema. O elenco principal não deixa dúvida do esforço: Henry Fonda (Vinhas da Ira), Audrey Hepburn (Bonequinha de Luxo), Mel Ferrer (O Sol Também se Levanta), Vittorio Gassman (Perfume de Mulher, o original) e Anita Ekberg (A Doce Vida).


Adaptação de Tolstói foi exitosa

A expansão e o declínio do império napoleônico moldam o roteiro. Com esse pano de fundo, se desenrola a história de duas famílias aristocráticas russas, os Rostov e os Bolkonski. Outro elemento interage nesse turbilhão de fatos e sentimentos: o conde Pierre Bezukhov (Fonda), filho ilegítimo que, reconhecido pelo moribundo pai, herda uma das maiores fortunas da Rússia.

A trama começa em 1805. Amigo do príncipe Andrei Bolkonski (Ferrer), Pierre tem vida errante e etílica. Enquanto o outro luta, fere-se e cai prisioneiro na Batalha de Austerlitz, vencida por Napoleão Bonaparte (Herbert Lom, o inspetor-chefe Charles Dreyfus da série A Pantera Cor-de-Rosa), Pierre entrega-se à bela e frívola Helena (Anita). Ao retornar do conflito, Andrei, viúvo, apaixona-se pela jovial Natasha Rostova (Audrey), o verdadeira amor de Pierre. 

Noiva de Andrei, Natasha sucumbe aos encantos do aventureiro Anatole (Gassman), irmão de Helene. Mas Pierre consegue evitar a fuga de Natasha com o cunhado. Contudo, não logra êxito em impedir que Andrei rompa com a heroína.

Os acontecimentos correm. Napoleão invade a Rússia. Enquanto recua, o povo arrasa a terra. Os franceses tomam Moscou. Muitas famílias deixam a cidade, que acaba por arder em chamas. Porém Pierre permanece. Ele quer matar o monarca francês.


Franceses ocupam Moscou. Construções da cidade arderam

Após saquear Moscou, o Grande Exército abandona o que restou, retornando para casa. Em meio à lama, ao frio e à neve, fustigado na retaguarda por tropas russas, a força agressora se deteriora. Essas sequências, assim como as da Batalha de Borodino, são extremamente bem feitas.

Em 1967, Sergei Bondarchuk realizou a versão soviética de Guerra e Paz. Três anos depois, filmou Waterloon, com Rod Steiger no papel de Bonaparte.

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Luzes da Cidade

A obra de Charles Chaplin continua a alegrar e emocionar as novas gerações de cinéfilos. Exemplo é Luzes da Cidade (City Lights, Estados Unidos, 1931), um dos melhores filmes desse gênio da arte. Comédia romântica em pantomima, o longa o traz  no auge da carreira de ator, diretor e roteirista.

Chaplin interpreta o Vagabundo (Tramp), sem dinheiro e sem teto para dormir. Ele conhece uma jovem florista cega, vivida por Virginia Cherrill, e se apaixona. A bela, que pensa que Chaplin é rico, mora com a avó (Florence Lee) em uma modesta casa. Com o aluguel atrasado, as duas podem ser despejadas.


Nessa comédia romântica, Chaplin está no auge

 O Vagabundo resolve ajudá-la a recuperar a visão e a permanecer na residência. Trabalha para conseguir recursos.  Em lance inesperado, torna-se amigo de um milionário (Harry Myers), que só o reconhece quando está bêbado. Myers lhe dá mil dólares. Quando acorda, o nababo nada lembra.

As situações cômicas se sucedem. Desde o início, Chaplin oferece ao espectador a plenitude do seu talento e sensibilidade. As gags são, de fato, espetaculares. À beira do rio, salva Myers do suicídio e quase se afoga.  Quando se prepara para lutar boxe, o Vagabundo utiliza os amuletos de um pugilista muito forte. Porém, ao vê-lo retornar ao vestiário desmaiado, arrepende-se da benzedura.

A música-tema de Luzes da Cidade, composta por Chaplin, é das mais conhecidas do cinema. A película foi um dos últimos sucessos do artista. Após, realizou os extraordinários Tempos Modernos (1936), crítica à industrialização fordista – grandes linhas de montagem para a produção em larga escala –, e O Grande Ditador (1940), denúncia do regime nazista – por esse filme, a direita norte-americana jamais o perdoou.  

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Narciso Negro

Cinco freiras viajam a uma região do remoto Himalia, na parte indiana, para viver no local. Além do convento, mantêm escola e enfermaria voltadas à comunidade. Elas passam a residir no antigo palácio, a 2.800 metros acima do nível do mar, ex-morada das amantes do falecido soberano. Pinturas nas paredes ainda guardam a memória dos velhos tempos. Nesse ambiente, onde viceja o cheiro do narciso, a dúvida e os desejos carnais florescem.

Esse é o tema central do exuberante Narciso Negro (Reino Unido, 1947), realizado por Michael Powell e Emeric Pressburger. À testa do elenco, Deborah Kerr, estrela de A Um Passo da Eternidade, O Rei e Eu e Tarde Demais para Esquecer (conferir postagem em agosto). Também no cast, Jean Simmons (Spartacus), Kathleen Byron, Sabu (O Ladrão de Bagdá) e David Farrar.

Deborah interpreta a jovem irmã Clodagh, líder da missão. Para conservar a coesão do grupo, ela terá de enfrentar muitos problemas, desde as diferenças culturais até a multiplicidade de temperamentos das colegas de fé.

Mas o principal desafio nasce do contato com Mr. Dean (Farrar), inglês rude que vive no povoado. Ele desperta impulsos sexuais, inconfessáveis e intoleráveis para as religiosas. Chega ao ponto de a irmã Ruth (Kathleen) abandonar a ordem e se entregar ao homem.

O filme tem forte traço de erotismo latente. Duas cenas exemplificam. Sem camisa, Dean chega para falar com as freiras. Sutilmente, irmã Ruth coloca-se ao lado dele, observando-o lascivamente. Outra: despida do hábito e com vestido rubro, Ruth, frente a frente com Clodagh, coloca batom vermelho nos lábios – tomada realizada em plano detalhe.


Deborah Kerr (D) em filme com significativa carga erótica

As imagens de Narciso Negro revelam alto domínio técnico e sensibilidade visual. Mais um sucesso cinematográfico de Michael Powell, co-diretor de O Ladrão de Bagdá (conferir postagem).

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Testemunha de Acusação

Apontado como assassino de uma viúva rica, o ex-militar britânico Leonard Stephen Vole procura o célebre advogado sir Wilfrid Robarts para defendê-lo. Somente a esposa do suposto criminoso, Christine, pode confirmar o álibi. Essa trama, baseada em história da escritora Agatha Christie, foi levada às telas pelo diretor Billy Wilder (Crepúsculo dos Deuses, Quanto Mais Quente Melhor). Instigante e inteligente, Testemunha de Acusação (Estados Unidos, 1957) merece o entusiasmo do cinéfilo.

Além da alta qualidade de roteiro e direção, a presença de Tyrone Power (O Fio da Navalha, primeira versão), Marlene Dietrich (O Anjo Azul) e Charles Laughton (O Corcunda de Notre Dame, adaptação de 1939) garantem fortes interpretações.


Presença de Marlene é um dos fortes atrativos do filme

Na Londres pós-Segunda Guerra Mundial, Vole (Power) busca interessados em um invento seu. Conhece uma viúva, solitária e rica, passando a frequentar a casa dela. Encontrada morta, as suspeitas caem sobre Vole, único herdeiro por testamento da vítima. Mesmo com a saúde abalada, sir Wilfrid (Laughton) assume o caso. Mulher do réu, Christine (Marlene) mostra-se, porém, inconfiável.


Laughton (E), ao lado de Power (D), dá show em cena

Vole enfrenta o Tribunal do Júri. Com enorme domínio cênico e jurídico, o astuto sir Wilfrid, entre uma pílula e um gole de conhaque, vai desconstituindo prova por prova da acusação. Mas terá de fulminar a mais inesperada e pungente delas: o testemunho de Christine.

O final conserva grandes surpresas para o espectador.

Nessa linha sigilosa, uma curiosidade: conta-se que os atores só ficaram sabendo do desfecho do longa no dia da última tomada.

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Todos os Homens do Presidente

A política não foi feita para anjos, disse o  jurista e filósofo político italiano Norberto Bobbio. Frequentemente, o terreno torna-se lamacento. Obra referencial sobre o tema, Todos os Homens do Presidente (Estados Unidos, 1976), do diretor Alan J. Pakula, narra o maior escândalo do Executivo norte-americano: Watergate, que resultou na renúncia, em 1974, do presidente Richard Nixon.

O caso foi revelado pela imprensa, sobretudo pelo atividade intensa de dois jornalistas do The Washington Post, Carl Bernstein e Bob Woodward. À frente do elenco, Dustin Hoffman, Robert Redford, Jack Warden (Doze Homens e Uma Sentença e O Céu Pode Esperar), Martin Balsam (Doze Homens e Uma Sentença) e Jason Robards (Era Uma Vez no Oeste). 

Em 1972, o comitê nacional do Partido Democrata, localizado no prédio Watergate, em Washington, fora invadido por cinco homens. Aparentemente, pauta policial. Aos poucos, a notícia muda de feição. O diário escala Bernstein (Hoffman) e Woodward (Redford) para investigar. Eles descobrem uma rede de espionagem e lavagem de dinheiro que envolve o núcleo do governo republicano de Nixon, recém-reeleito. Uma fonte anônima, chamada de Garganta Profunda, guia os passos de Woodward, levando-o a fazer conexões entre o assalto e o mandatário.

Em alguns momentos do drama, o espectador pode ficar um pouco perdido, pois são mencionados muitos nomes do staff da Casa Branca. Mas a compreensão do quadro geral não é prejudicada.

Outro aspecto relevante da película reside no cotidiano da Redação do jornal. O corre-corre, a pressão, o labor da escrita, a  convivência com as cobras criadas da profissão, tudo dá sabor especial ao filme.


Hoffman e Redford interpretam dois jornalistas

Todos os Homens do Presidente – título do livro escrito pelos dois repórteres  – ganhou o Oscar em quatro categorias: Melhor Ator Coadjuvante (Robards), Melhor Direção de Arte, Melhor Roteiro Adaptado e Melhor Som.

Bernstein e Woodward integram a lista dos jornalistas lendários do século 20.

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

O Maior Amante do Mundo

O Maior Amante do Mundo (Estados Unidos, 1977) é uma comédia charmosa e repleta de referências a astros antigos da grande tela. Escrito, dirigido e estrelado por Gene Wilder, o filme, cheio de nonsense, tem sequências hilariantes. Além de ator consagrado, Wilder tornou-se realizador reconhecido – A Dama de Vermelho (1984), com a beleza de Kelly LeBrock, alcançou amplo sucesso.

O mandachuva do Rainbow Studios, Adolph Zitz (Dom DeLuise), procura um intérprete capaz de ser O Maior Amante do Mundo e imitar o ídolo Rodolfo Valentino (Sangue e Areia, O Sheik), contratado pelo estúdio rival Paramount. Nascido na Itália, Valentino foi o primeiro símbolo sexual masculino do cinema, paradigma do "amante latino".

Centenas de canastrões vão atrás do sonho. Entre eles, o padeiro neurótico Rudy Hickman (Wilder), ou Rudy Valentine. Ele e a esposa Annie (Carol Kane) partem para Los Angeles, terra da indústria cinematográfica. Mesmo sem dinheiro, se hospedam em hotel de luxo. Artistas como Douglas Fairbanks e Greta Ga-Ga (Rudy quer dizer Greta Garbo) podem estar na área.


Gene Wilder vive Rudy Valentine

Mas o desgosto chega ao herói. Apaixonada, Annie foge a fim de encontrar o verdadeiro galã. Rudy, desesperado em evitar o desfecho amoroso, só pode recorrer a uma pessoa: Rodolfo Valentino.  

Desopilante, a película comporta trechos de forte comicidade. Após a banheira vazar, a sala do quarto do hotel fica alagada. Com o objetivo de impressionar os tios, Rudy mergulha e convida a todos para se refrescarem na "piscina". Na loja de discos, escuta a gravação de instruções de como transmitir sensualidade para conquistar uma mulher. A plateia não duvida: o homem é louco.

Gene Wilder trabalhou em obras do diretor Mel Brooks (Banzé no Oeste, O Jovem Frankenstein). Interpretou Willy Wonka na primeira versão de A Fantástica Fábrica de Chocolate (1971).

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

O Ladrão de Bagdá

Clássico da fantasia, O Ladrão de Bagdá (Reino Unido, 1940) tornou-se famoso sobretudo pela alta qualidade dos cenários e dos efeitos especiais. Co-dirigido por Michael Powell, Ludwig Berger e Tim Whelan, traz à tela a magia das histórias do Oriente. À frente do elenco, o grande ator Conrad Veidt.


Ator fenomenal, Conrad Veidt interpreta Jaffar

O grão-vizir de Bagdá e feiticeiro Jaffar (Veidt) decide tomar o poder. Ele encarcera o rei Ahmad (John Justin). Na prisão, o governante conhece o jovem ladrão Abu (Sabu, de Mogli, o Menino Lobo). A dupla foge para a cidade de Basra. Lá, Ahmad conhece a bela princesa (June Duprez), e os dois se apaixonam.

Jaffar também deseja desposá-la. Como vingança, tira a visão de Ahmad e transforma Abu em cão. Novamente na forma humana, os heróis vivem aventuras fabulosas, com o objetivo de derrotar Jaffar, recuperar o trono e salvar a princesa das mãos do vilão.

Momentos maravilhosos qualificam o longa. O cavalo mecânico alado. A boneca de múltiplos braços viva. O aparecimento do gênio Djinn (Rex Ingram) – Abu, mais uma vez, usa a argúcia de quem precisa lutar pela sobrevivência para dominá-lo. A luta do ladrão contra a aranha gigante no templo. Claro, não falta tapete voador.


Efeitos especiais tornaram célebre o filme

Obra-prima de beleza e inteligência, O Ladrão de Bagdá arrebatou o Oscar nas categorias de Melhor Fotografia, Melhor Direção de Arte e Melhores Efeitos Especiais.

Mais um trabalho prodigioso de Conrad Veidt. O intérprete, alemão naturalizado britânico, atuou em célebres títulos, como O Gabinete do Dr. Caligari, O Homem que Ri (conferir postagem em junho) e Casablanca.     

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Bravura Indômita

Premiado com o Oscar de Melhor Ator – o único da carreira –, John Wayne está impecável no western Bravura Indômita (Estados Unidos, 1969). Ele vive o comissário da lei Rooster Cogburn, homem envelhecido, bêbado, caolho, destemido e decadente. Dirigido por Henry Hathaway (Lanceiros da Índia), o longa ingressou, com méritos, no rol dos clássicos do gênero.

Após ter o pai assassinado, a jovem Mattie Ross (Kim Darby) procura Cogburn, que tem fama de implacável caçador de bandidos. Ela paga 100 dólares para que capture o homicida Tom Cheney (Jeff Corey), que se juntou ao grupo de Lucky Ned Pepper (Robert Duvall). A malta se esconde em uma reserva indígena.

Wayne terá a ajuda do agente La Boeuf (Glen Campbell). Apesar da oposição da dupla, Mattie insiste em acompanhar a missão. Com muito senso de humor, o rabugento Cogburn guia os companheiros.

Há cenas célebres. Duas delas. A primeira: Cogburn, embriagado, cai do cavalo. Sem perder a “classe”, decide que ali mesmo irão acampar. A segunda: o astro coloca as rédeas do animal na boca, empunha nas mãos revólver e rifle e enfrenta, a galope, quatro criminosos. Momento incrível. Afinal, o cara se chama John Wayne.


John Wayne atua em cena incrível

Bom de tiro, Cogburn mata ratos, cobras e homens. Bom de coração, conquista a afeição de Mattie.

Em 2010, os irmãos Coen realizaram nova adaptação da história. Jeff Bridges interpretou o indômito personagem. Um êxito. 

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

A Vida de Émile Zola

A Vida de Émile Zola (Estados Unidos, 1937) narra a história de um dos mais aclamados nomes da literatura universal e fundador do movimento naturalista. Dirigido pelo ator e diretor alemão William Dieterle, tem no papel principal o notável Paul Muni  (Scarface e A História de Louis Pasteur). Autor de clássicos como Germinal, Zola foi figura central na defesa do capitão francês Alfred Dreyfus, oficial de artilharia judeu condenado injustamente por traição.

Paris, 1862. A obra mostra o começo difícil de Zola. Sem dinheiro, divide uma mansarda com o pintor Paul Cézanne (Vladimir Sokoloff). A partir da publicação da novela Nana, inicia a ascensão. O caminho à fama tem preço: de escritor combativo, passa à acomodação. A situação muda quando a esposa de Dreyfus o procura, pedindo ajuda.

Dreyfus foi acusado de transmitir segredos militares para os alemães. Julgado culpado pela corte marcial em 1894, é humilhado em praça pública e enviado para a prisão da Ilha do Diabo, na Guiana Francesa. O autêntico traidor, porém, é o oficial Esterhazy (Robert Barrat). O alto-comando, mesmo depois de saber a verdade, se recusa a rever o processo. Neste momento, a coragem de Zola entra em cena.

Publica então, em 1898, o famoso J’accuse (Eu acuso), no jornal L’Aurore. Na carta aberta ao presidente da República, o escritor acusa os membros do Estado-Maior de, deliberadamente, condenar um inocente. Zola responderá por difamação.


Zola defende o capitão Dreyfus, condenado injustamente

A questão sobre Dreyfus dividiu a opinião pública. De um lado, militares, monarquistas e membros da direita antissemita  apoiam a medida judiciária. De outro, democratas, socialistas e republicanos denunciam o escândalo. Após os eventos tornarem-se claros, o degradado conquista a reabilitação, reintegrando-se ao Exército.

A Vida de Émile Zola arrebatou o Oscar em três itens: Melhor Filme, Melhor Roteiro e Melhor Ator Coadjuvante (Joseph Schildkraut, intérprete de Dreyfus).

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Tess

As imagens de Tess (França-Reino Unido, 1979), de Roman Polanski, são deslumbrantes. Muitos enquadramentos recordam pinturas bucólicas de artistas ingleses do século 19. Baseado na obra de Thomas Hardy, o filme testemunha o alto domínio técnico do diretor.

Na Inglaterra vitoriana, a família Durbeyfield, de camponeses pobres, recebe a informação do parentesco com os nobres e ricos d'Urberville. A filha mais velha, a bela e ingênua Tess (Nastassja Kinski), é enviada para conversar com os supostos parentes. Acaba seduzida pelo “primo” Alec d'Urberville (Leigh Lawson).

Ao abandonar a mansão dos d'Urberville, Tess retorna à casa materna. Nasce e morre seu filho. A heroína busca trabalho em outro lugar. Conhece o jovem Angel Clare (Peter Firth), rico e idealista. Apaixonam-se. Casam-se. Tess contará o segredo ao marido? Qual será a reação? O receio a atormenta. Sofre. Perambula. É vilipendiada. O desespero a obriga a ato extremado.


Belas imagens marcam o filme, cuja protagonista é Nastassja Kinski

De forma primorosa, Polanski reconstrói uma época. O tempo de transformações, com a introdução do maquinário alterando as relações socioeconômicas, tornando o trabalho humano, no tempo da Revolução Industrial na Inglaterra – país pioneiro no novo método produtivo –, extremamente exaustivo. A carga de labor era de 10, 12, 14, 16 horas por dia, inclusive com o emprego de mão de obra infantil. Os salários, apenas o suficiente para a sobrevivência.

Tess venceu o Oscar em três categorias: Direção de Arte, Fotografia e Figurino.

O cineasta dedicou o longa à esposa Sharon Tate, brutalmente assassinada por seguidores da seita de Charles Manson. Assim como a película, este texto é dedicado à atriz. Para Sharon.

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

O Homem que Matou o Facínora

O Homem que Matou o Facínora (The Man Who Shot Liberty Valance, Estados Unidos, 1962) é dos títulos máximos do western. O filme, narrado em flashback,  tem direção, roteiro e interpretações de primeira. Com precisão, o mestre John Ford conduz a história e o elenco, formado por John Wayne, James Stewart, Lee Marvin, Lee Van Cleef e Vera Miles.

O recém-formado advogado Ransom Stoddard (Stewart) chega à pequena cidade de Shinbone. Ele acredita na força da lei. No caminho, os temidos bandidos Liberty Valance (Marvin) e Reese (Van Cleef) o espancam. Ferido e humilhado, começa a trabalhar no restaurante de Hallie (Vera), em troca de comida e moradia. Disputará o amor dela com o durão Tom Doniphon (Wayne).

Liberty Valance, o facínora, aparece no estabelecimento. Reconhece a vítima, provocando-a. Tom intervém, em apoio ao bom moço. A temperatura ferve. Mesmo contrário ao uso de armas, Stoddard terá de enfrentar Marvin.


Van Cleef, Marvin, Stewart e Wayne, em obra-prima de John Ford

Anos depois, quando retorna a Shinbone para o enterro de Tom, Stoddard, agora senador dos Estados Unidos, recorda e esclarece os acontecimentos. Sobretudo, quem afinal matou o facínora.

O longa foi um dos últimos trabalhos de Ford. Mais uma obra-prima do realizador de Rastros de Ódio (conferir postagem).

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Lawrence da Arábia

Difícil mensurar e expressar as qualidades técnicas e plásticas de Lawrence da Arábia (Reino Unido, 1962). Antes, David Lean havia alcançado o sucesso com outra superprodução, A Ponto do Rio Kwai (1957).

Mas o filme sobre o militar britânico T. E. Lawrence, que partiu do Cairo para a Península Arábica a fim de fomentar a revolta contra o Império Otomano, atingiu patamar artístico ainda mais elevado. O épico tem elenco de prestígio: Peter O’Toole, Omar Sharif, Anthony Quinn, Alec Guinness e Claude Rains.

Durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), Lawrence (O’Toole) recebe a missão de unir as tribos árabes para que enfrentem os turcos. O objetivo do Exército de Sua Majestade é enfraquecer o poder de Istambul.  Oficial de ligação, Lawrence aos poucos se envolve culturalmente com os árabes, adquirindo hábitos de beduíno.


O'Toole vive o herói do deserto

Nessa viagem por terras longínquas, o britânico, cuja personalidade se reveste de indiscutível complexidade, se transforma em Lawrence da Arábia e conhece o sherif Ali ibn el-Kharish (Sharif), o príncipe Faiçal (Guinness), o líder tribal Auda abu Tayi (Quinn). Também experimenta a amizade, a lealdade e humilhação.

Grandes cenas marcam o longa. A travessia do deserto, autêntico feito de resistência física e mental. A sabotagem nas linhas férreas. A conquista da cidade litorânea de Aqaba. A sevícia turca. O massacre de tropas inimigas. A tomada de Damasco, evento que redunda na discórdia e no término da aliança entre os árabes.

A beleza das imagens, com a composição das cores extremamente elaborada, impressiona. O próprio deserto, com sua peculiar estética, funciona como autêntico “personagem” na trama.

Lawrence da Arábia arrebatou o Oscar em sete categorias. Entre elas, Melhor Filme e Melhor Direção.

Depois, Lean realizou Doutor Jivago (conferir postagem), A Filha de Ryan e Passagem para a Índia.

PS: Por falar em eventos do século 20, morreu hoje o grande historiador marxista britânico Eric Hobsbawm. Um grande intelectual e humanista.

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Os Canhões de Navarone

Obra espetacular, Os Canhões de Navarone (Reino Unido, 1961) pertence à lista dos grandes filmes de guerra. Dirigido por J. Lee Thompson, o longa, baseado no romance homônimo de Alistair MacLean (O Desafio das Águias), reúne forte elenco: Gregory Peck, Anthony Quinn, David Niven, Anthony Quayle e Irene Papas. A trama ganhou o Oscar de 1962 na categoria Efeitos Especiais.

Segunda Guerra Mundial. Em 1943, 2 mil soldados ingleses encontram-se encurralados em território grego. Estão prestes a serem atacados por alemães. Urge salvá-los. Mas a operação naval de resgate esbarra em poderoso obstáculo: os dois canhões da ilha de Navarone.


Armas alemãs devem ser destruídas

Pequena unidade é enviada para demolir os dispositivos nazistas. O especialista em explosivos cabo Miller (Niven), o coronel grego Andrea Stavros (Quinn), o major Roy Franklin (Quayle) e o capitão Keith Mallory (Peck), que assume o comando da expedição, integram o grupo. Maria Pappadimos (Irene), membro da resistência local, junta-se aos militares.

Peck, em mais uma grande atuação, comanda missão

Até alcançar o objetivo da missão, passam por diversos perigos. Tempestade no mar;  escalada de penhasco;  perseguição e tiros; sabotagem e traição.

O roteiro afastou-se do livro. A adaptação, contudo, não prejudicou o cerne da narrativa de MacLean. Aliás, a ilha de Navarone não existe.

No ano seguinte à feitura de Os Canhões de Navarone, J. Lee Thompson realizou a primeira versão de Cape Fear (no Brasil, Círculo do Medo), com Robert Mitchum e Peck. Em 1991, Martin Scorsese dirigiu nova adaptação da história – o assustador Cabo do Medo, com Robert De Niro e Nick Nolte.
  

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Fugindo do Inferno

Em Fugindo do Inferno (Estados Unidos, 1963), clássico de guerra, Steve McQueen, Charles Bronson e James Coburn atuam novamente juntos sob a direção de John Sturges. Três anos antes, integraram o elenco de Sete Homens e um Destino (conferir postagem), obra-prima de Sturges. Agora, ao lado de McQueen, Bronson e Coburn, compõem o cast James Garner e Richard Attenborough.

Baseado em fatos reais, Fugindo do Inferno narra a tentativa de aviadores aliados de escapar de um campo de prisioneiros mantido pela Luftwaffe, a força aérea alemã, na França, durante a ocupação nazista na Segunda Guerra Mundial. Cercados por arame farpado e sob forte vigilância, decidem construir três túneis para a evasão. O plano, coordenado pelo líder de esquadrão britânico Roger Bartlett/Big X (Attenborough), abrange a retirada de 250 homens.

Cada militar possui tarefa específica. O tenente polonês Danny Welinski (Bronson) cava. Da mesma patente, o americano Bob Hendley (Garner), o “ladrão”, encarrega-se de obter os materiais indispensáveis.  McQueen, que interpreta o irrequieto e irreverente capitão americano Hilts, tem encargo peculiar: fugir sozinho e retornar com informações essenciais.

Após a descoberta de um dos túneis, eles decidem concentrar os esforços em apenas um. Ao total, 76 deixam o local. Perseguidos, poucos conseguem a liberdade.

O longa contém momentos memoráveis. O difícil trabalho dentro da passagem subterrânea. A elaboração de aguardente para comemorar o Dia da Independência dos Estados. As sequências em que Hilts pilota uma motocicleta. (Assim como Paul Newman, McQueen era aficionado por velocidade.)


McQueen tenta escapar em uma motocicleta

Fugindo do Inferno inspirou a série de TV Guerra, Sombra e Água Fresca.

Por fim, algo sobre Attenborough. Ator britânico de prestígio, também foi para trás das câmeras. Realizou importantes obras. Uma Ponte Longe Demais (1977) e Gandhi (1982) são exemplos.

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

O Enigma da Pirâmide

Muito divertido. O Enigma da Pirâmide (Young Sherlock Holmes, Estados Unidos, 1985) é aventura trepidante. Dirigido por Barry Levinson, de Rain Man, o filme narra a adolescência do detetive Sherlock Holmes e o início da amizade com o doutor John Watson, companheiro e biógrafo do ilustre morador da rua Baker Street. A história é inspirada na obra ficcional de sir Arthur Conan Doyle.

Na era vitoriana, Holmes (Nicholas Rowe) e Watson (Alan Cox) estudam em Londres. Na escola, a aptidão daquele desperta admiração e inveja. Uma série de alucinações e mortes misteriosas anima o interesse de Holmes. Entre as vítimas, um velho professor, amigo e mentor do jovem investigador. De forma surpreendente, os crimes relacionam-se com uma seita do antigo Egito.


Filme narra a juventude do detetive Sherlock Holmes

Ao lado de Elizabeth (Sophie Ward) – namorada de Holmes –, a dupla enfrentará inúmeros perigos. Sem deixar o humor de lado, os heróis – inclusive o bonachão Watson, renitente a correr riscos – mostrarão coragem para superar os desafios.

Merece menção a qualidade dos efeitos especiais. Eles servem para compor a história, não se sobrepondo a ela, o que revela o bom trabalho do diretor.

A solução do caso depende do gênio “sherlockiano”. De fato, a argúcia do personagem assombra. “Elementar, meu caro Watson.”