sábado, 30 de junho de 2012

Rômulo e Remo

Épico, Rômulo e Remo (1961), dirigido por Sergio Corbucci, é emblemática obra do cinema popular italiano. O longa narra o mito de fundação de Roma, em 753 a.C., pelos gêmeos Rômulo (Steve Reeves) e Remo (Gordon Scott).

Ambos atores foram ídolos de parte da juventude nos anos 50 e 60. Carismáticos, Reeves, em papéis como o de Hércules, e Scott, na pele de Tarzan, empolgaram jovens nas matinês, entre eles o meu pai.

Filhos de um deus e de uma sacerdotisa, Rômulo e Remo sobrevivem amamentados por uma loba, após a mãe ser forçada a abandoná-los. Criados entre pastores, crescem fortes e exímios guerreiros. Depois da destruição da lendária Alba Longa, partem para criar uma nova cidade. Nasce a discórdia. Rômulo funda Roma e o irmão, enfurecido, o desafia. Rômulo vence e torna-se o primeiro rei da joia do Lácio.


Scott (E) e Reeves (D)

Parcela significativa dos especialistas jamais aceitou Corbucci. Mas fico ao lado de Jean Tulard, autor de Dicionário de Cinema - Os Diretores. Corbucci é um bom contador de histórias e que, apesar do material que tinhas nas mãos, fez um bom trabalho, afirmou Tulard.

Sergio Leone, realizador de Por um Punhado e Dólares,  Era Uma Vez no Oeste e Era Uma Vez na América, hoje cultuado com razão por críticos e cinéfilos, vem do mesmo meio de Corbucci. Aliás, Leone é um dos oito roteiristas de Rômulo e Remo.

quinta-feira, 28 de junho de 2012

El Cid

Rever El Cid (Estados Unidos-Itália, 1961) será sempre prazeroso. Realizado pelo mestre do western Anthony Mann, o épico narra a saga de El Cid, lendário herói espanhol da Reconquista, movimento católico de recuperação das terras da Península Ibérica sob domínio muçulmano. Tal poder se estende do século 8 a 1492, quando cai o último reduto mouro, Granada.

A história começa em 1080. Forças católicas e islâmicas se enfrentam. Charlton Heston interpreta o nobre Rodrigo Díaz de Bivar, o El Cid (em árabe, cid significa senhor). Acusado de traição por ter libertado inimigos, El Cid mata o campeão do rei de Castela, pai de Ximena (Sophia Loren), sua noiva. Ele mesmo acaba por se tornar campeão do monarca.

A desgraça chega a Rodrigo. Parte para o exílio. Mas novamente nos braços de Ximena, que lhe perdoa, recebe o apoio de tropas dispostas a segui-lo, mesmo banido. Ameaçados por invasores oriundos da África do Norte, cristãos e mouros unem-se, por meio de El Cid, contra o inimigo comum. Justo, piedoso, leal e corajoso, capaz de humilhar um soberano e de saciar a sede de um leproso, o personagem angaria admiradores por onde passa.

O longa tem vários pontos altos. Admirável o duelo pela cidade de Caloharra, que coloca frente a frente Heston e o representante do reino de Aragão. Igualmente as sequências que envolvem os cercos a Valência.


Heston é o herói espanhol

Famoso pelas atuações em superproduções, como Os Dez Mandamentos (1956) e Ben-Hur (1959), Heston mostra aguda maturidade no filme de Mann. Deve-se registrar que o astro trabalhou, em 1958, no sensacional A Marcada da Maldade, dirigido por Orson Welles.

A Espanha moura foi um período singular da história. No território, onde cristãos, judeus e mulçumanos viveram pacificamente, floresceu uma cultura esplendorosa, de poetas, filósofos e cientistas.

O comovente romance Sombras da Romazeira, de Tariq Ali, descreve os derradeiros momentos da Granada mourisca. O livro saiu no Brasil pela editora Record.

quarta-feira, 27 de junho de 2012

O Homem que Ri

Obra sensível, O Homem que Ri (Estados Unidos, 1928, mudo) tem nos créditos dois nomes importantes do movimento expressionista alemão: o diretor Paul Leni e o ator Conrad Veidt. Baseado no romance homônimo de Victor Hugo, o longa emociona.

Inglaterra, século 17. Vingativo, o rei Jaime II sequestra e vende o filho de um nobre rebelde, morto dentro da dama de ferro, instrumento de tortura e execução. O rosto da criança é desfigurado, esculpindo-se na face um perpétuo sorriso. O pequeno, herdeiro de um ducado, torna-se atração circense, o famoso palhaço Gwynplaine (Veidt). Após ser reconhecido como legítimo sucessor, o herói, insatisfeito com a hipocrisia aristocrática, terá de fugir para viver com os seus. Diante da hostilidade, Gwynplaine reafirma a dignidade do homem.

No curso da tragédia, às vezes, existe salvação. No amor da atriz cega Dea (Mary Philbin) ele encontra a chance de ser feliz.

Atuação extraordinária de Veidt. A caracterização de Gwynplaine originou o personagem Coringa, arqui-inimigo de Batman.


Personagem originou o Coringa

Mítico ator, Veidt (1893-1943) celebrizou-se no papel de Cesare, o sonâmbulo assassino de O Gabinete do Doutor Caligari (1920). O último sucesso foi Casablanca (1942), na pele do major alemão Strasser – Veidt recebeu o maior cachê do elenco.

terça-feira, 26 de junho de 2012

Ver-te-ei no Inferno

Sean Connery e Richard Harris estão à frente do elenco de Ver-te-ei no Inferno (The Molly Maguires, Estados Unidos, 1970). O drama é dirigido por Martin Ritt, o mesmo de O Indomado.

No Estado da Pinsilvânia (EUA), em 1876, um série de atos de sabotagem ocorre em minas de carvão onde trabalham imigrantes irlandeses. A primeira cena, que dura pouco menos de 10 minutos, ilustra essa estratégia e o tom da película.

Esse plano de resistência é levado a cabo por um grupo de mineiros (os molly maguires), cujo líder é Jack Kehoe (Connery). As condições de vida são aviltantes. A atividade de extrair o minério, duríssima. Os salários, irrisórios. Crianças laboram nas jazidas.


Connery e a luta dos mineiros

A fim de identificar os integrantes da organização, a polícia envia um agente, James McParlan (Harris). O investigador deverá se infiltrar entre os trabalhadores e identificar os militantes. Apesar de alguma simpatia com os molly maguires, McParlan cumprirá a missão.

A Igreja condena a facção de Kehoe. O padre do vilarejo afirma que eles irão para o "inferno". Mas, na razão e sentimento de cada explorado, a vida de quem deve descer às minas para sobreviver também é infernal. Por isso, a luta, independente do desfecho.

O francês Émile Zola escreveu Germinal, livro que narra uma greve de mineiros na França no século 19. Nele, os desafios da organização embrionária da classe operária são descritos com arte e exatidão. O filme Germinal  com Gérard Depardieu e direção de Claude Berri (Bélgica-França-Itália, 1993) é uma ótima adaptação.

domingo, 24 de junho de 2012

O Gavião do Mar

Típico capa e espada, O Gavião do Mar (Estados Unidos, 1940) é mais um clássico de aventura dirigido por Michael Curtiz e estrelado por Errol Flynn. A trama, que se passa em 1585, envolve o espectador – do início ao fim.

Flynn é o capitão Geoffrey Thorpe, um dos gaviões do mar, corsários a serviço da rainha inglesa Elizabeth I (Flora Robson). À época, a Inglaterra tenta resistir à expansão da Espanha, principal potência mundial. Em missão no Panamá, Thorpe e a tripulação do navia Albatroz caem em uma armadilha. Tornam-se prisioneiros dos espanhóis. Quando conseguem fugir, descobrem um plano de Madri para atacar a ilha.

Claro, não poderia faltar dose de romance. Em uma abordagem, Thorpe apaixona-se por dona Maria (a bela Brenda Marshall), sobrinha do embaixador da Espanha na corte inglesa, don José Alvarez de Cordoba (Claude Rains).


Rainha e o corsário

A película de Curtiz pode ser incluída na lista das obras do chamado esforço de guerra, como Casablanca (Estados Unidos, 1942). No ano em que O Gavião do Mar foi feito, 1940, o mundo vivia sob a agressão nazista. A Inglaterra, particularmente, resistia aos ataques alemães.

Há, na realização de Curtiz, um claro paralelo. Por isso a fala de Elizabeth I, no final do longa, ganha uma dimensão histórica especial. Reproduzo parte, pois vale a pena: "E agora, meus leais súditos, um terrível dever nos confronta. A preparação de nosso país para uma guerra que ninguém deseja, muito menos sua rainha. Tentamos por todos os meios evitar essa guerra. Não temos disputas com o povo da Espanha ou com qualquer outro povo".

E continua, agora com implícita menção a Hitler: "Mas quando a ambição impiedosa de um homem ameaça capturar o mundo, torna-se obrigação solene de todos os homens livres afirmar que a Terra pertence não só a um homem, mas a todos os homens. E que a liberdade é o compromisso para com o solo em que vivemos. (...)".

Elizabeth I, então, apresenta a nova Marinha real, que vencerá a Grande Armada espanhola, de Filipe II.

quinta-feira, 21 de junho de 2012

O Indomado

O Indomado (Hud, Estados Unidos, 1963), de Martin Ritt, é um trabalho ilustre na trajetória de Paul Newman. À época, já era um astro consagrado, tendo no currículo filmes como Gata em Teto de Zinco Quente (1958), Exodus (1960) e Desafio à Corrupção (1961).

Hud Bannon (Newman) é um indomado, explosivo e egoísta filho de um velho fazendeiro do Texas, Homer Bannon (Melvyn Douglas). Hud, mergulhado no álcool e em aventuras amorosas, vive em permanente conflito com o pai. O neto de Homer e sobrinho do personagem princial, Lonnie Bannon (Brandon De Wilde, o pequeno Joey Starrett, de Os Brutos Também Amam), idolatra o tio. O pai de Lonnie morreu em um acidente de automóvel, causado pela imprudência de Hud. Completa o quadro familiar Alma Brown (a ótima Patricia Neal, de Bonequinha de Luxo), empregada doméstica – Newman tenta seduzi-la constantemente.

Newman e Patricia

Na espiral que envolve pai e filho, as agressões aumentam de intensidade. "Você é um homem sem princípios, Hud", acusa Homer. Após um bate-boca com Hud, o patriarca diz para o neto: "Às vezes, os velhos são duros como as suas artérias".

Cena de extrema tensão ocorre quando Hud, após beber e brigar com o pai, tenta violentar Alma. Devido à intervenção de Lonnie, o ato não se consuma.

Aos poucos, todos abandonarão, de um jeito ou de outro, Hud.

Indicado a sete categorias do Oscar, o drama venceu três: Melhor Ator Coadjuvante (Douglas), Melhor Atriz (Patricia) e Melhor Fotografia – a película é em preto e branco.

Mitt teve problemas com o macartismo, onda anticomunista que abalou os Estados Unidos durante os anos 40 e 50. A fim de manter-se em atividade, deu aulas no Actors Studio, escola de interpretação localizada em Nova York. Entre seus alunos, Newman e James Dean.

Mitt dirigiu Norma Rae (1979), sobre o movimento sindical, e Ver-te-ei no Inferno (1970), a respeito da luta de mineiros irlandeses na Pensilvânia – para muitos críticos, sua melhor realização.

quarta-feira, 20 de junho de 2012

O Baile

O Baile (Le Bal, 1983), produção da França, Itália e Argélia, é uma das realizações mais inteligentes da sétima arte. Dirigido pelo italiano Ettore Scola (Feios, Sujos e Malvados e A Viagem do Capitão Tornado, entre outros), a película, sem diálogos verbais, causou frisson, colhendo aplausos e prêmios. Perfeita combinação de interpretação, direção, roteiro e fotografia.

Gravado em um único cenário, um salão de baile, a obra narra parte da história da França no século 20, dos anos 1930 à década de 80. Fatos marcantes, como a vitória da Frente Popular (coalização de socialistas e comunistas), a ocupação nazista e o Maio de 1968, são referidos. Tudo acompanhado por danças, músicas e ritmos da respectiva época. O elenco é composto pela trupe do Théatre du Campagnol. Aproximadamente 25 atores se revezam em cena, representando cerca de 140 personagens.


Um feito do cinema

Há emoção, humor (as gags são muito engraçadas), nostagia e tristeza – afinal, certa hora a festa acaba, e muitos vão sozinhos para casa.

Durante o labor, Scola sofreu um ataque cardíaco. O longa foi retomado após a sua recuperação. Em 1984, Scola recebeu pelo trabalho o Urso de Prata no Festival de Berlim.

O Baile é inesquecível. Uma façanha.

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Sete Homens e um Destino

Yul Brynner, Steve McQueen, Charles Bronson, Robert Vaughn, Brad Dexter, James Coburn, Horst Buchholz e Eli Wallach. Poucas obras reuniram um elenco tão fantástico quanto Sete Homens e um Destino (Estados Unidos, 1960), de John Sturges. Refilmagem de Os Sete Samurais (Japão, 1954), de Akira Kurosawa, tornou-se um referencial no universo do western.

Humildes moradores de um vilarejo no México vivem constantemente sob o tacão do criminoso Calvera (Wallach) e de seu bando. Espoliados, resolvem buscar ajuda. Encontram dois pistoleiros desempregados, Chris Adams (Brynner) e Vin (McQueen). Em troca de comida, cama limpa e de um punhado de dinheiro, ambos convocam mais cinco homens: Bernardo O'Reilly (Bronson), Britt (Coburn), Lee (Vaughn), Harry Luck (Dexter) e Chico (o estreante Buchholz). Todos são frustrados com a vida que levam.

Filme tem elenco fantástico

Há tantas cenas inesquecíveis. Uma delas ocorre quando o grupo de Chris é expulso do povoado. Ao invés de irem embora, os sete resolvem voltar e lutar contra os bandidos. Muitos encontrarão a morte. No fundo, os únicos vencedores são os moradores, pois somente estes permanecerão naquela terra.

Composta por Elmer Bernstein, a trilha sonora, que serviu de tema para publicidade de uma marca de cigarros, entrou para o imaginário popular.

Nascido em Nova York em 1915, Wallach continua ativo. Em 2011, recebeu um Oscar Honorário pela relevância da carreira.

De olhos fechados, é possível ver Brynner, McQueen, Bronson, Vaughn, Dexter, Coburn e Buchholz cavalgando juntos novamente.

Os Duelistas

Em tempo de Prometheus, é bom revisitar o primieiro longa dirigido por Ridley Scott, Os Duelistas (The Duellists, Reino Unido, 1977). Uma joia autêntica. A beleza plástica das imagens deslumbra.

Baseada na novela homônima de Joseph Conrad, a película conta história de dois oficiais do Exército francês (Keith Carradine e Harvey Keitel, ambos estão ótimos nos papéis) que, durante o período napoleônico, travam constantes duelos. O motivo da rixa é insignificante. Após anos de hostilidade, os próprios duelistas mal sabem a razão do atrito.


Os rivais Carradine e Keitel

Pelo trabalho, Scott ganhou o prêmio de Melhor Filme de Estreia no Festival de Cannes de 1977.

Depois de Os Duelistas, o cineasta emplacou duas novas obras-primas, consagrando-se junto ao público e à crítica: Alien, O Oitavo Passageiro (1979) e Blade Runner.

Várias obras de Conrad foram adaptadas para a tela grande. Por exemplo, Lord Jim (1965, de Richard Brooks) e Apocalypse Now (1979, de Francis Ford Coppola), filme de guerra sensacional, com sequências alucinantes, baseado em O Coração das Trevas.

sexta-feira, 15 de junho de 2012

Capitão Blood

Antes realizar os clássicos As Aventuras de Robin Hood (1938) e A Carga da Brigada Ligeira (1936), Michael Curtiz dirigiu Capitão Blood (Estados Unidos, 1935), um marco na história dos filmes de aventura. Surge, pela primeira vez, o par Errol Flynn-Olivia de Havilland.

Na Inglaterra de 1689, Flynn é Peter Blood, médico condenado, injustamente, por ter cuidado de um homem que havia participado da rebelião contra o rei James II. Pena: trabalho escravo na Jamaica. O herói e Arabella Bishop (Olivia), sobrinha do chefe militar local, se apaixonam. Após um ataque de corsários espanhóis, os prisioneiros escapam e formam uma tripulação de piratas, comandada por Flynn, que se torna o capitão Blood. No elenco, Basil Rathbone, no papel do pirata francês capitão Levasseur. O duelo de espadas, à beira do mar, entre Blood e Lavasseur, antigos aliados, é de tirar o fôlego.

Flynn e Rathbone

Atuações convincentes e cenas ousadas, como a batalha entre navios, geraram sensação à época. O primeiro crítico de cinema do Rio Grande do Sul, Jacob Koutzii (sob o pseudônimo Plínio Moraes), escreveu: "Michael Curtiz! Quem será esse homem? Um mágico? Um alquimista com pactos infernais? Que poderes tem ele para criar coisas tão extraordinárias? Michael Curtiz, escuta: – Tu não és deste mundo. Onde foste buscar essa visão tão real, tão espantosamente real da vida do Capitão Blood? (...)". (Koutzii, Jacob. A Tela Branca. Porto Alegre, Unidade Editorial/Porto Alegre, 1997.)

Curtiz nasceu Manó Kertész Kaminer em Budapeste, na Hungria, em 1886. Chegou aos Estados Unidos em 1926. Tornou-se um mestre do gênero aventura.

terça-feira, 12 de junho de 2012

As Aventuras de Robin Hood

Houve uma época em que um dos sinônimos de filmes de aventura era Errol Flynn. As Aventuras de Robin Hood (Estados Unidos, 1938), dirigido por Michael Curitz e William Keighley, talvez seja o melhor exemplo.

Flynn é Robin Hood, corajoso nobre que rouba dos ricos para dar aos pobres. O herói e seus seguidores lutam contra o domínio normando na Inglaterra, simbolizado pelo príncipe John (Claude Rains) e sir Guy de Gisbourne (Basil Rathbone). Enquanto combate com arco-e-flecha e espada os inimigos na floresta de Sherwood, Robin conquista o coração de lady Marian, a bela e talentosa Olivia de Havilland – aos 95 anos, Olivia vive em Paris.

Narrativa trepidante, modelo do gênero, As Aventuras de Robin Hood é uma obra que merece permanente destaque. A cena do torneio de arqueiros, no qual Robin mostra excepcional habilidade, é soberba – culmina com um flecha atravessando ao meio outra, no sentido horizontal. O duelo de Robin e Guy é fecho de primeira.



Quatro anos após concluir As Aventuras de Robin Hood, Curtiz realizou Casablanca, com Rains no papel do policial francês corrupto e colaborador dos alemães capitão Louis Renault.

PS: Assisti hoje, com meu pai, ao emocionante Salvador (Espanha, 2006, direção de Manuel Huerga), sobre o anarquista Salvador Puig Antich (Daniel Brühl), último prisioneiro executado pelo regime franquista. Expropriador de bancos e militante antifascista, Salvador é uma espécie de Robin Hood. Moderno e revolucionário.

sábado, 9 de junho de 2012

O Franco-Atirador

Um filme antológico. Isso é pouco para se dizer a respeito de O Franco-Atirador (Estados Unidos, 1978), do diretor Michael Cimino. É uma das obras emblemáticas sobre a Guerra do Vietnam.

Três metalúrgicos de uma comunidade de imigrantes russos no Sul dos Estados Unidos partem, no final dos anos 1960, para lutar no atoleiro asiático. Motivados pelo patriotismo, os amigos e caçadores amadores Michael "Mike" Vronsky (Robert De Niro), Steven Pushkov (John Savage) e Nikanor "Nick" Chevotarevich (Christopher Walken) conhecem as vicissitudes do conflito. As consequências físicas e mentais da experiência transformarão completamente a vida de todos. A obra é claramente dividida em três partes – antes, durante e depois da campanha –, o que dá ao espectador um noção límpida das intenções do longa.

Walken, Cazale e De Niro

A cena em que Mike e Nick jogam roleta-russa pela segunda vez, agora em Saigon, cidade em colapso, é memorável. Certamente, um dos momentos mais dramáticos do cinema da década de 70.

Na lista de personagens, Linda (Meryl Streep), que se envolve com Mike e Nick, e Stanley (John Cazale, o Fredo de O Poderoso Chefão, partes I e II). À época, os dois eram noivos. Foi o último trabalho de Cazale. Um câncer nos ossos o matou pouco após o término das filmagens.

A trilha sonora também merece destaque. Há canções populares russas e a clássica Can't Take My Eyes of You.

A película recebeu o Oscar nas categorias de Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Ator Coadjuvante (Christopher Walken), Melhor Som e Melhor Edição.

Um elenco de primeira categoria. Possivelmente, a principal atuação de Walken.

quinta-feira, 7 de junho de 2012

Cleópatra

Pouco visto hoje, Cleópatra do diretor Cecil B. DeMille (Estados Unidos, 1934) merece ser redescoberto. O filme, mesmo sem a grandiosidade da versão de 1963 feita por Joseph L. Mankiewicz (Elizabeth Taylor, Richard Burton e Rex Harrison no elenco), têm cenas pungentes.

A história da ascensão e queda de Cleópatra, rainha do Egito, é conhecida. A fim de manter a independência da Dádiva do Nilo, ela relaciona-se, primeiro, com Júlio César, depois, com Marco Antônio, ambos políticos e militares romanos. A disputa pelo poder em Roma leva Cleópatra e Marco Antônio à derrota e à morte.

Na obra de DeMille, Claudette Colbert, uma das mais populares atrizes da época, é Cleópatra. Warren William e Henry Wilcoxon representam, respectivamente, Júlio César e Marco Antônio. A entrada de Cleópatra na Cidade Eterna e seu encontro com Marco Antônio são momentos marcantes. A obra venceu o Oscar na categoria Melhor Fotografia.

Colbert é a rainha do Egito

Diferente do longa de Mankiewicz, que dura 243 minutos, a película de 1934 é de 100 minutos.

DeMille notabilizou-se por trabalhos com temas bíblicos. Duas versões de Os Dez Mandamentos (1923 e 1956), O Rei dos Reis (1927), O Sinal da Cruz (1932, com Claudette Colbert e o excepcional Charles Laughton no papel de Nero) e Sansão e Dalila (1949, Hedy Lamarr e Victor Mature) lhe deram fama.

quarta-feira, 6 de junho de 2012

Os Brutos Também Amam

Os Brutos Também Amam (Shane, Estados Unidos, 1953) é um dos mais cultuados faroestes. Dirigido por George Stevens (Um Lugar ao Sol e Assim Caminha a Humanidade), a obra logo ingressou no imaginário dos fãs do gênero.

Shane (Alan Ladd) é um misterioso e solitário cowboy que chega a um lugarejo. No local, os colonos tentam manter suas terras ante a ameação dos grandes proprietários de gado. Ele assume a briga, ao lado dos agricultores. Shane começa a trabalhar na gleba da família Starrett, onde moram o marido Joe (Van Heflin), a mulher Marian (Jean Arthur) e o pequeno Joey (Brandon de Wilde). A criança desenvolve profunda admiração pelo desconhecido, enquanto a esposa não esconde um sentimento amoroso.

O herói representa uma força visceral, apta a lutar por justiça. Mas ele é um homem de outro tempo, uma era que, com o advento da modernidade, acabará.


Alan Ladd é o herói Shane

O manda-chuva da região contrata um pistoleiro para solucionar a situação. O assassino profissional é o frio Jack Wilson (Jack Palance, nos créditos ainda como Walter Jack Palance). O duelo final é sensacional.


Palance é Jack Wilson

Quando escrevo este texto, lembro do jornalista, crítico de cinema e tradutor Paulo Perdigão, autor do livro O Western Clássico - Gênese e Estrutura de 'Shane'. Visitou três vezes o set, de onde recolheu poeira e pedras. Conheceu pessoalmente Stevens. Assistiu 82 vezes a obra. Mas o melhor: tinha uma cópia do filme personalizada. Nela, introduziu uma fala na qual ele avisa Shane de que Jack Wilson irá matá-lo.

terça-feira, 5 de junho de 2012

O Milagre de Anne Sullivan

O Milagre de Anne Sullivan (Estados Unidos, 1962) é o segundo longa do diretor Arthur Penn (1922-2010). As atuações de Anne Bancroft e Patty Duke são memoráveis.

O drama conta a história real do encontro entre a educadora Anne Sullivan (Anne) e Helen Keller (Patty), menina cega e surda. Helen mora com a família no Sul dos Estados Unidos. Extremamente mimada pelos pais, vive em um mundo à parte. A chegada de Anne – ela mesma com problemas de visão – subverte a situação. Ela conquista aos poucos o respeito e afeição da aluna. Por meio do tato e da língua dos sinais, Anne consegue libertar a garota do casulo, incentivando-a a ser independente e a se comunicar com as pessoas. No futuro, a pupila se transformará em filósofa, escritora e conferencista.

Pelo trabalho, Anne Bancroft venceu o Oscar na categora Melhor Atriz, enquanto Patty Duke arrebatou o prêmio de Melhor Atriz Coadjuvante.

Patty e Anne

Ícone da contracultura, Penn foi um dos diretores mais significativos dos Estados Unidos. Muitas vezes, buscou mostrar um indivíduo que não se enquadra nos paradigmas comuns. Filmou delinquentes durante o período da Depressão no antológico Bonnie e Clyde (1967), a comunidade hippie em Deixe-nos Viver (1969), o índio no inovador Pequeno Grande Homem (1970) e o imigrante em Amigos Para Sempre (1981).

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Reds

O ator Warren Beatty dirigiu um trabalho histórico notável: Reds (Estados Unidos, 1981). A obra narra a trajetória do jornalista comunista norte-americano John Reed (Beatty), autor de Os Dez Dias que Abalaram o Mundo, clássico livro reportagem sobre a Revolução Russa de outubro de 1917.

Beatty é John Reed

Reed sentiu de perto a efervescência revolucionária do povo. Como profissional e militante, frequentou os altos escalões do Partido Bolchevique. A película não expõe somente a euforia provocada por um momento de profundo impacto. Beatty também revela a decepção com os rumos da revolução. Nesse aspecto, no papel da anarquista Emma Goldman, é excelente a interpretação de Maureen Stapleton.

A escritora e feminista Louise Bryant, mulher de Reed, é representada por Diane Keaton. Jack Nicholson, sem caretas, é o dramaturgo Eugene O'Neill. Beatty mostra entrevistas com pessoas que viveram a época, entre elas o escritor Henry Miller. O recurso dá um tom documental ao filme.

Reed morreu em 1920, em um hospital de Moscou, vítima de tifo. Foi enterrado com honras de herói – é o único norte-americano sepultado junto às muralhas Kremlin, perto do mausoléu de Lenin.

O drama angariou diversos prêmios. Conquistou o Oscar nas categorias direção, melhor atriz coadjuvante (Maureen) e fotografia.

História envolvente, imagens esplêndidas e atuações marcantes fazem de Reds um momento especial do cinema.