sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Moby Dick

Desfigurado pela baleia Moby Dick, o capitão Ahab busca vingança a qualquer custo. Obstinado, singra os mares atrás do monstro branco. O célebre romance de Herman Melville (1819-1891) tornou-se um filme sensacional nas mãos do diretor John Huston. Com roteiro do escritor Ray Bradbury (Fahrenheit 451), Moby Dick (Estados Unidos, 1956) representa momento especial na carreira do astro Gregory Peck.

Num porto da costa americana, baleeiro é preparado para zarpar. À época, assim como hoje, a caça ao mamífero significava negócio altamente rentável, além de ser modo de vida de gerações de marinheiros. Tripulação escolhida, a população local ouve o poderoso sermão do reverendo Mapple, interpretado por Orson Welles – diretor e ator genial. Chega a hora de partir.

O capitão Ahab (Peck) demora a aparecer na tela. Percebe-se a presença do comandante unicamente pelo andar no interior do navio – sonoplastia simples e eficiente. Quando surge diante do espectador e da marujada, fica claro o motivo da raiva que alimenta por Moby Dick: mutilado em ataque da fera, Ahab não tem a perna esquerda. No lugar, o osso de uma baleia.

Com sangue e arpões, a guarnição, ante o ensandecido capitão, jura de morte o cetáceo. Velozes sequências de caça impressionam. Enquanto lida com o descontentamento dos subordinados, calor e tempestades, Ahab mantém-se firme no propósito. Sem dúvida, Moby Dick deve perecer, mesmo que para isso tenham todos o mesmo destino.


Gregory Peck  interpreta o ensandecido capitão Ahab

Ator, diretor e roteirista, John Huston gravou fundo seu nome na arte cinematográfica. Estreou na direção em 1941, ao lançar a obra-prima Relíquia Macabra (ou O  Falcão Maltês). Novamente com Humphrey Bogart no elenco, dirigiu, em 1948, o próprio pai, Walter Huston, no inesquecível O Tesouro de Sierra Madre. Huston filmou como poucos os perdedores. O último trabalho à frente das câmeras ocorreu em 1987. Baseado em conto do irlandês James Joyce (1882-1941), Os Vivos e os Mortos é comovente reflexão sobre a morte.

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

A Selva Nua

Mais conhecido por dirigir, em 1953, A Guerra dos Mundos, Byron Haskin realizou outras obras de fôlego. Entre elas, A Selva Nua (The Naked Jungle, Estados Unidos, 1954), sobre o ataque de um exército gigantesco de formigas. Charlton Heston e Eleanor Parker interpretam os papéis principais. Dois anos depois de A Selva Nua, Heston atuou no célebre Os Dez Mandamentos.

América do Sul, 1901. No interior da região amazônica, a bela americana Joanna (Eleanor) viaja para conhecer o marido Christopher Leiningen (Heston) – o casamento ocorreu via procuração. Rude proprietário rural, espécie de grileiro, Leiningen mantém a plantação de cacau sob rígido controle disciplinar. Com a exploração do trabalho indígena,   conquistou a terra e fez riqueza. Solitário, quer mulher, família, filhos.

Após desentendimentos, os dois decidem se separar, mesmo existindo forte atração entre ambos. Enquanto descem o rio Negro – atenção para a erótica sequência em que Leiningen passa óleo nas costas e braços de Joanna –, surgem milhões e milhões de formigas no caminho. No avanço, elas arrasam toda a vegetação, matam os animais e os homens, tudo o que há de vivo no caminho.

Leiningen e Joanna retornam à casa a fim de enfrentar, juntos, a onda de insetos. Eles formam um bloco de 30 quilômetros de comprimento por três quilômetros de largura. Apenas fogo, água e coragem podem barrá-los e salvar os bens.


Heston enfrenta exército gigantesco de formigas

O húngaro George Pal produziu A Selva Nua. À frente das câmeras, Pal realizou, em 1960, a mais famosa versão de A Máquina do Tempo.

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Tubarão

Tubarão (Jaws, Estados Unidos, 1975) foi o primeiro sucesso retumbante de Steven Spielberg. Marcou época,  transformando-se em ícone do suspense. Com atuações competentes de Roy Scheider (Maratona da Morte), Robert Shaw (Golpe de Mestre) e Richard Dreyfuss (Além da Eternidade) e música-tema eficiente, o longa envolve plenamente espectador. A obra venceu o Oscar nas categorias Melhor Trilha Sonora, Melhor Montagem e Melhor Som.

Numa pequena cidade do litoral norte-americano, o corpo estraçalhado de uma garota é encontrado na praia. O chefe da polícia  Martin Brody (Scheider) começa a investigar. Após constatar que a mulher fora vítima de um tubarão, tenta interditar a costa, a fim de evitar novos ataques. Porém, o prefeito não aceita a medida, pois ela afugentará os turistas.

Brody recebe ajuda do especialista Matt Hooper (Dreyfuss). Novos óbitos obrigam o poder público a contratar Quint (Shaw), experiente e temperamental pescador, dono do barco Orca.   Não há mais dúvida, segundo Hooper: o responsável pelas investidas é um gigantesco tubarão-branco. Os três rumam ao mar, com o objetivo de aniquilar a fera, sem recuar diante do perigo.


O combate contra a fera contém grande dramaticidade

Durante a viagem, conflitos de personalidade surgem entre Quint e Hooper – o homem do mar, "pobre", versus o homem da cidade, "rico". Apesar da dicotomia, brota o senso de camaradagem, essencial para enfrentar o desafio. O embate direto contra o animal conduz a película ao clímax, com incrível dramaticidade. 

Antes de Tubarão, Spielberg realizou, em 1971, o excelente Encurralado. Depois do triunfo de 1975, alcançou novos êxitos, como Os Caçadores da Arca Perdida e E.T., o Extraterrestre. Por vezes, deve-se admitir, aspectos pueris prejudicam o resultado final de alguns trabalhos do cineasta.

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Suplício de Uma Saudade

Os astros William Holden e Jennifer Jones formam o par do drama romântico Suplício de Uma Saudade (Love Is a Many Splendored Thing, Estados Unidos, 1955). Dirigido por Henry King, teve boa acolhida, arrebatando o Oscar nas categorias Melhor Figurino Colorido, Canção Original e Trilha Sonora.  King havia obtido sucesso com Jennifer ao dirigi-lá no premiado A Canção de Bernadette, em 1943.

A ação começa no ano de 1949, em Hong Kong, à época domínio do Reino Unido. Enquanto os comunistas estão prestes a conquistar a China, contingentes de inconformados com o futuro regime partem para o pequeno território, em busca de abrigo. Nesse contexto, o correspondente americano Mark Elliott (Holden) conhece a médica euroasiática Han Suyin (Jennifer). Às voltas com doentes e pautas jornalísticas, os dois se apaixonam. Há, entretanto, obstáculos a vencer.


Jennifer e Holden em cena romântica no clássico de King

Mark é casado, enquanto parentes chineses de Suyin se opõem a que ela, viúva, contraia matrimônio com um ocidental. Ele tenta o divórcio, mas a esposa recusa. A elite britânica, fleumática e hipócrita, não admite que o relacionamento se torne público. Sob pressão, Suyin perde o emprego.

Chamado a cobrir a Guerra da Coreia – conflito emblemático da Guerra Fria –, Mark viaja ao front. Na promessa de retorno, o compromisso de, livres, viverem juntos. Porém o futuro muitas vezes não obedece o desejo dos amantes.

A música  Love is a Many Splendored Thing embeleza as cenas mais marcantes do longa. Frank Sinatra e Nat King Cole gravaram a canção.

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Midway

Com atores de primeira e grandes recursos materiais, o diretor Jack Smight realizou o ótimo Midway (Estados Unidos,1976). O filme conta, de forma extremamente realista, a Batalha de Midway, em junho de 1942, durante a Segunda Guerra Mundial. Nela, os Estados Unidos, mesmo inferiores numericamente, impuseram uma derrota crucial sobre a Marinha japonesa no oceano Pacífico. Charlton Heston (Ben-Hur), Henry Fonda (Vinhas da Ira), Glenn Ford (Gilda), Robert Mitchum (O Mensageiro do Diabo) e Toshiro Mifune (Os Sete Samurais) são alguns dos nomes mais conhecidos do elenco.



Midway é uma ilha no Pacífico. O pequeno território era peça fundamental na cadeia de comunicação dos Estados Unidos durante o conflito. Se apossar dele significava ganho importante para as pretensões de Tóquio de domínio.

A inteligência estadunidense suspeita das intenções nipônicas. Por meio de cálculo brilhante, define a provável localização da frota inimiga, liderada pelo almirante Yamamoto (Mifune). O almirante Nimitz (Fonda) dá a ordem de avançar as forças navais para surpreender os opositores. Além de várias navios de apoio, o Japão tem na área quatro porta-aviões.

Esquadrões japoneses golpeiam a guarnição de Midway. Guiados pelos almirante Raymond Spruance (Ford), os Estados Unidos contra-atacam. Após manobras audaciosas e de erros dos oponentes, o resultado foi favorável aos norte-americanos: os quatros porta-aviões são afundados – o país perde um, o USS Yorktown, no qual o capitão Matthew Garth (Heston) tem papel destacado.

Na batalha, as duas armadas não se enfrentaram diretamente – somente por meio de aeronaves. O desempenho em Midway mudou a maneira de os Estados Unidos pensarem seus próximos passos. Ao invés de se concentrar na construção de cruzadores, passam a priorizar os porta-aviões. Até hoje, essa espécie de belonave integra o núcleo central da estratégia naval da superpotência.  

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

O Selvagem

O Selvagem (The Wild One, Estados Unidos, 1953) é um dos filmes que consagraram o mito Marlon Brando. Após atuar nos clássicos Uma Rua Chamada Pecado, Viva Zapata! e Sindicato de Ladrões, os três do cineasta Elia Kazan, Brando foi escalado para protagonizar o drama realizado pelo diretor húngaro László Benedek. Ao pilotar uma motocicleta modelo Triumph Thunderbird 6T, vestir jeans e jaqueta de couro preta, Brando lançou moda, influenciando gerações de jovens.

No drama de Benedek, Brando interpreta o "rebelde sem causa" Johnny Strabler, líder da gangue de motociclistas Black Rebels Motorcycle Club. Eles invadem uma pequena cidade, onde, ao som de bebop, entornam muita cerveja e provocam distúrbios. Johnny, que não gosta de policiais, é atraído pela garçonete Mary Murphy (Kathie Bleeker), filha de um agente da lei.


Personagem de Brando influenciou gerações

O perfil do personagem central é delineado de forma clara. Por exemplo, no balcão Johnny pede cerveja a Mary. Ela abre a garrafa, pega o copo e oferece para Johnny. Mas ele bebe direto do gargalo. Apesar da desordem, muitos moradores têm simpatia pelos arruaceiros.

Novas confusões surgem quando aparece no local o grupo de Chino (Lee Marvin), ex-parceiro de Johnny. Brigam. A luta, que envolve dois gigantes do cinema, é antológica. Depois de tantas confusões, alguns homens se unem para pegar Johnny e espancá-lo.  Injustamente, é acusado de matar um idoso.

Entre tantos momentos memoráveis, deve-se destacar, por fim, a primeira cena do longa. Na estrada vazia, enquanto o narrador (Brando) introduz a história, os motoclistas vão se aproximando velozmente. Brando surge na tela.

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Os Selvagens da Noite

Os Selvagens da Noite (The Warriors, Estados Unidos, 1979), de Walter Hill, ganhou status de filme cult – virou video game. Nele, o diretor aborda o universo tribal das gangues de Nova York, com seus elementos singulares de identificação.

Cyrus, chefe da maior maior associação criminosa da cidade, Gramercy Riffs, convoca representantes das demais  para uma assembleia. Ele afirma que as gangues unidas – elas brigam entre si – são mais fortes que a polícia. Durante o discurso, é morto a tiro. Injustamente, os integrantes dos Warriors (Guerreiros) são acusados, pelos verdadeiros autores do ataque, de assassinar Cyrus.

A partir de então, perseguidos por outros bandos, os guerreiros – eles utilizam coletes marrons, sem camisa por baixo –  tentam escapar para o bairro de Coney Island, base do grupo. Além de guiar a fuga madrugada adentro, o impávido líder Swan (Michel Beck) tem de superar a vaidade do rival Ajax (James Remar), que quer assumir o posto.

Em ritmo frenético, os guerreiro enfrentam a fúria dos adversários. Dois notáveis combates ocorrem quando lutam contra os jogadores de beisebol, que carregam bastões e têm os rostos pintados, e os jovens que andam de patins, com macacões e armados de correntes. Por onde passam, os heróis deixam a letra W, de Warriors, pichada. A jornada termina com desfecho surpreendente.
 

Filme tornou-se cult. Ação tem ritmo frenético

De certa forma, a película tem  paralelo com o poema épico Odisseia, narrativa homérica sobre o regresso para casa de um dos personagens centrais da Guerra de Troia. No retorno, o grego Odisseu (Ulisses, na mitologia romana) passa por diversas provações. Ajax, aliás, foi derrotado por Odisseu durante os eventos troianos.

Após Os Selvagens da Noite, a carreira de Michael Beck jamais foi a mesma. Em 1980, atuou no musical Xanadu, com Olivia Newton-John e Gene Kelly. A película teve reduzida receptividade junto ao público. A crítica fulminou a obra.

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Guerra e Paz

O diretor King Vidor assumiu o desafio de levar às telas o gigantesco romance Guerra e Paz, do russo Liev Tolstói (1828-1910). Mesmo com certa distância do texto original, o épico Guerra e Paz (War and Peace, Estados Unidos-Itália, 1956) recebeu o reconhecimento merecido do público e da crítica. Foi por muito tempo, em termos absolutos, a obra mais cara do cinema. O elenco principal não deixa dúvida do esforço: Henry Fonda (Vinhas da Ira), Audrey Hepburn (Bonequinha de Luxo), Mel Ferrer (O Sol Também se Levanta), Vittorio Gassman (Perfume de Mulher, o original) e Anita Ekberg (A Doce Vida).


Adaptação de Tolstói foi exitosa

A expansão e o declínio do império napoleônico moldam o roteiro. Com esse pano de fundo, se desenrola a história de duas famílias aristocráticas russas, os Rostov e os Bolkonski. Outro elemento interage nesse turbilhão de fatos e sentimentos: o conde Pierre Bezukhov (Fonda), filho ilegítimo que, reconhecido pelo moribundo pai, herda uma das maiores fortunas da Rússia.

A trama começa em 1805. Amigo do príncipe Andrei Bolkonski (Ferrer), Pierre tem vida errante e etílica. Enquanto o outro luta, fere-se e cai prisioneiro na Batalha de Austerlitz, vencida por Napoleão Bonaparte (Herbert Lom, o inspetor-chefe Charles Dreyfus da série A Pantera Cor-de-Rosa), Pierre entrega-se à bela e frívola Helena (Anita). Ao retornar do conflito, Andrei, viúvo, apaixona-se pela jovial Natasha Rostova (Audrey), o verdadeira amor de Pierre. 

Noiva de Andrei, Natasha sucumbe aos encantos do aventureiro Anatole (Gassman), irmão de Helene. Mas Pierre consegue evitar a fuga de Natasha com o cunhado. Contudo, não logra êxito em impedir que Andrei rompa com a heroína.

Os acontecimentos correm. Napoleão invade a Rússia. Enquanto recua, o povo arrasa a terra. Os franceses tomam Moscou. Muitas famílias deixam a cidade, que acaba por arder em chamas. Porém Pierre permanece. Ele quer matar o monarca francês.


Franceses ocupam Moscou. Construções da cidade arderam

Após saquear Moscou, o Grande Exército abandona o que restou, retornando para casa. Em meio à lama, ao frio e à neve, fustigado na retaguarda por tropas russas, a força agressora se deteriora. Essas sequências, assim como as da Batalha de Borodino, são extremamente bem feitas.

Em 1967, Sergei Bondarchuk realizou a versão soviética de Guerra e Paz. Três anos depois, filmou Waterloon, com Rod Steiger no papel de Bonaparte.

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Luzes da Cidade

A obra de Charles Chaplin continua a alegrar e emocionar as novas gerações de cinéfilos. Exemplo é Luzes da Cidade (City Lights, Estados Unidos, 1931), um dos melhores filmes desse gênio da arte. Comédia romântica em pantomima, o longa o traz  no auge da carreira de ator, diretor e roteirista.

Chaplin interpreta o Vagabundo (Tramp), sem dinheiro e sem teto para dormir. Ele conhece uma jovem florista cega, vivida por Virginia Cherrill, e se apaixona. A bela, que pensa que Chaplin é rico, mora com a avó (Florence Lee) em uma modesta casa. Com o aluguel atrasado, as duas podem ser despejadas.


Nessa comédia romântica, Chaplin está no auge

 O Vagabundo resolve ajudá-la a recuperar a visão e a permanecer na residência. Trabalha para conseguir recursos.  Em lance inesperado, torna-se amigo de um milionário (Harry Myers), que só o reconhece quando está bêbado. Myers lhe dá mil dólares. Quando acorda, o nababo nada lembra.

As situações cômicas se sucedem. Desde o início, Chaplin oferece ao espectador a plenitude do seu talento e sensibilidade. As gags são, de fato, espetaculares. À beira do rio, salva Myers do suicídio e quase se afoga.  Quando se prepara para lutar boxe, o Vagabundo utiliza os amuletos de um pugilista muito forte. Porém, ao vê-lo retornar ao vestiário desmaiado, arrepende-se da benzedura.

A música-tema de Luzes da Cidade, composta por Chaplin, é das mais conhecidas do cinema. A película foi um dos últimos sucessos do artista. Após, realizou os extraordinários Tempos Modernos (1936), crítica à industrialização fordista – grandes linhas de montagem para a produção em larga escala –, e O Grande Ditador (1940), denúncia do regime nazista – por esse filme, a direita norte-americana jamais o perdoou.