quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Brigitte et Brigitte

Comédia de teor político, Brigitte et Brigitte (França, 1966) foi o primeiro longa dirigido por Luc Moullet, crítico da revista Cahiers du Cinéma. Integrante do movimento Nouvelle Vague, realizou uma obra que, de certa maneira, antecipa eventos da rebelião estudantil de maio de 1968.  À cabeça do elenco, as atrizes Colette Descombes e Françoise Vatel.

O tema do duplo estrutura o trabalho. Em 1965, duas jovens, Brigitte e Brigitte, se conhecem em Paris. Aparentemente, são iguais: nomes, roupas, bagagens e objetivos. Ambas querem morar na capital e estudar na universidade de Sorbonne. Tornam-se amigas e dividem o apartamento. Juntas, perambulam pelos principais pontos turísticos da cidade.


Filme antecipa eventos da revolta estudantil de maio de 1968

Contudo, diferenças de fundo as distinguem. Brigitte (Colette) tem postura progressista. Brigitte (Françoise), arraigados preconceitos raciais. Historicamente, a sociedade francesa divide-se, grosso modo, em campos ideológicos opostos. Girondinos e jacobinos; monarquistas e republicanos; conservadores e democratas; comunistas e fascistas.

Moullet revela essa dinâmica em distintos momentos. Diante da instituição de ensino, as duas presenciam manifestações, com faixas e gritos, de estudantes ligados à esquerda e à direita. Outra cena emblemática: Brigitte (Françoise), completamente confusa, vota para presidente. Entre os nomes disponíveis nas cédulas de papel, o socialista François Mitterrand e o general nacionalista Charles de Gaulle.

A explosão libertária de 1968, antiautoritária, abalou o establishment francês. No filme, um dos personagens – acadêmico que frequenta mais o bar do que a sala de aula – afirma que os professores detestam a vanguarda. São esses professores que serão ridicularizados naquele maio revolucionário.

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

O Cangaceiro

A importância de O Cangaceiro (Brasil, 1953) é enorme. "Faroeste caboclo", foi o primeiro filme brasileiro a conquistar o público internacional. Também contribui para a América Latina fraturar o domínio pleno nas telas da indústria hollywoodiana.

Com direção de Lima Barreto e diálogos da escritora Raquel de Queiroz, a obra é inspirada na figura de Virgulino Ferreira da Silva, o lendário bandido Lampião, o Rei do Cangaço. Produzido pela Companhia Cinematográfica Vera Cruz, transformou-se em grande sucesso de bilheteria. Repercutiu no vestuário de muitos jovens, mesmo que distantes geograficamente do imaginário nordestino – as gravações, aliás, ocorreram em Vargem Grande do Sul, município do Estado de São Paulo.

As sequências iniciais indicam influência direta do western. O bando do capitão Galdino (Milton Ribeiro), a galope, invade um vilarejo. De posse do lugar, saqueia e enforca "macacos" (gíria local para policiais). Cruel e religioso, Galdino pratica justiça. Mostra a todos – integrantes ou não do grupo – a autoridade que tem.

Na fuga, os criminosos sequestram a bela professora Olívia (Marisa Prado). A presença de Olívia gera tensão no acampamento. Provoca ciúmes e lascívia. O taciturno Teodoro (Alberto Ruschel), homem de confiança de Galdino, apaixona-se pela jovem e resolve escapar com ela. O amor nasce, qual o cacto na terra seca.


Ator Milton Ribeiro (E) interpreta personagem inspirado em Lampião

O chefe não perdoa a afronta. Numa caçada brutal e implacável, concentra os esforços na captura dos dois. Não haverá perdão ao traidor, promete Galdino. O desfecho da história é digno de mestres do gênero como John Ford e Howard Hawks.

O trabalho de Lima Barreto arrebatou os prêmios de Melhor Filme de Aventura e de Melhor Trilha Sonora no Festival de Cinema de Cannes, na França. A principal canção de O Cangaceiro, Mulher Rendeira, alcançou grande popularidade. Participam o elenco desse clássico imperdível os cantores Vanja Orico (Maria) e Adoniran Barbosa (Mané Mole).

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Santa Maria

Transmito a minha solidariedade aos pais – especialmente a eles –, demais familiares e amigos das vítimas do incêndio na boate Kiss, em Santa Maria. Quantos jovens perdidos. Quanta dor, Santa Maria, minha querida cidade natal.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

O Céu Por Testemunha

O Céu Por Testemunha (Heaven Knows, Mr. Allison, Estados Unidos, 1957) não integra a lista dos trabalhos mais aclamados do realizador John Huston. Relíquia Macabra, O Tesouro de Sierra Madre, Moby Dick e O Homem que Queria Ser Rei têm maior prestígio entre os cinéfilos. A obra, contudo, conserva francas virtudes. A começar pela direção segura do mestre Huston e as interpretações precisas dos astros Deborah Kerr e Robert Mitchum.

Em 1944, durante o último ano da Segunda Guerra Mundial, o cabo Allison (Mitchum), dos fuzileiros navais dos Estados Unidos, sobrevive a um naufrágio. Dentro do bote de borracha, chega a uma ilha do Pacífico Sul. Cauteloso, com receio da presença japonesa, encontra a aldeia abandonada. A sensação de isolamento termina ao conhecer a irmã Angela (Deborah). Ao fugir do avanço nipônico, ela acaba sozinha naquele pedaço de terra.

Colhem frutas e pescam. Assim, descobrem os pontos convergentes e divergentes entre si. Planejam escapar. Mas soldados inimigos desembarcam e malogram o objetivo. Escondem-se numa caverna, enquanto aguardam a hipotética chegada das forças americanas. A situação pode forçá-los a permanecer longo tempo perdidos. A raiva de Allison e o desespero de Angela conduzem os personagens ao principal momento dramático do filme.


Deborah Kerr e Robert Mitchum protagonizam obra de Huston

Entre os dois há barreiras poderosas para que surja algo além da amizade e ajuda mútua. A bela e sensível cena em que Allison presenteia Angela com um pente de madeira, tosco, porém feito por ele, simboliza isso. As freira, com cabelos curtos, não usam o utensílio, diz ela.

Atriz de Narciso Negro e Tarde Demais para Esquecer, Deborah tornou-se uma das estrelas de Hollywood preferidas do público. Por sua vez, Mitchum, ator carismático, consagrou-se sobretudo por papéis de vilão. O Mensageiro do Diabo (1955) e Círculo do Medo (1962) comprovam o talento do artista.    

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Amarga Esperança

Primeira obra assinada por Nicholas Ray, Amarga Esperança (They Live By Night, Estados Unidos, 1948) traz o principal traço da produção do diretor: a fragilidade dos heróis. Foi justamento isso o que levou, por exemplo, cineastas do outro lado do oceano Atlântico a cultuá-lo. François  Truffaut, Jean-Luc Godard, Wim Wenders e outros reconhecem a influência de Ray.

Pode-se notar em Amarga Esperança as qualidades do futuro realizador dos inesquecíveis Johnny Guitar (1954) – faroeste feminil, com a talentosa Joan Crawford, dona de saloon, de revólver em punho – e Juventude Transviada (1955), trabalho inflamado pela presença de James Dean.

Na década de 1930, durante a Grande Depressão americana, três delinquentes escapam de uma penitenciária no Estado do Mississipi. Entre eles, o jovem Bowie (Farley Granger), condenado por assassinato. Depois de ser induzido e instigado a participar de um assalto a banco pelos comparsas, Bowie foge com a namorada Keechie (Cathy O'Donnell).


Trabalho marca estreia na direção do mestre Nicholas Ray

Com o dinheiro do crime, os dois se casam e tentam levar uma existência tranquila e reclusa, longe da vista de todos. Bowie, inclusive, deseja provar que é inocente do homicídio. Mas o idílio não dura muito.

Os cúmplices necessitam de dólares. E precisam da ajuda de Bowie para um novo roubo. Após o delito, a polícia, que considera o rapaz o líder da quadrilha, aperta o cerco.  Esse dilema do personagem, viver entre o perigo da bala e o amor de Keechie, é o cerne desse clássico filme de estrada.

Homem de teatro e cinema, Ray forjou sua trajetória artística sob o signo do lirismo. Morreu consumido pelo câncer. Um mestre do ofício.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

A Confissão

Expoente do cinema político, o diretor grego Constantin Costa-Gavras realizou uma crítica aguda da burocracia stalinista do Leste Europeu: A Confissão (L'Aveu, França-Itália, 1970). Dois anos antes, Costa-Gavras denunciou, no filme Z, o golpe dos coronéis ultradireitistas gregos. Em 1982, o alvo foi a ditadura chilena, com o sensacional Missing (Desaparecido, Um Grande Mistério). 

A Confissão levou às telas as memórias de Arthur London. Militante revolucionário tcheco-eslovaco, combateu ao lado dos republicanos na Guerra Civil Espanhola e na Resistência francesa. Cosmopolita, London morreu em Paris, no ano de 1986.

A trama, que começa em 1951, se passa na extinta Tchecoslováquia. À época, paredes ostentavam retratos de Josef Stalin e do líder local Klement Gottwald.

Agentes de segurança do Estado sequestram o vice-ministro de Relações Exteriores, Gérard (Yves Montand, em grande atuação). Detido, acusado de trair o Partido Comunista, único legal, e de aliar-se ao imperialismo, é submetido a humilhações e torturas, físicas e psicológicas. Os carcereiros ordenam, a quase todo momento, "ande!", "ande!", "ande!" ou "deite na posição correta!", "deite na posição correta!".


Filme faz forte crítica aos regimes autoritários do Leste Europeu 

Gérard rejeita as imputações, evidentemente mentirosas. Mas o partido não pode se enganar, reconhece qualquer militante da ortodoxia soviética. Gérard afirma que é melhor errar dentro do partido do que está certo fora dele. Aos poucos, cede às pressões. Ao lado de outros 13 dirigentes, entre eles o secretário-geral do partido, vai a julgamento. Acusados de trotskismo, titismo e sionismo – considerados "crimes" pelas autoridades –, devem confessar. Há duas penas possíveis: enforcamento ou prisão perpétua. A natureza do expurgo é implacável.

Nesse cuidadoso trabalho, Costa-Gavras explicita as falsidades, as manipulações e o caráter antissemita que envolviam o processo judicial.

Assim como a autobiografia do internacionalista Victor Serge, Memórias de Um Revolucionário, A Confissão mostra a mecânica do aparelho repressor do Estado stalinista. O contraste entre o genuíno idealismo e a realidade do regime choca.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Scarface (primeira versão)

Clássico filme de gângsteres, Scarface (Estados Unidos, 1932), com direção de Howard Hawks e roteiro de Ben Hecht, provocou forte reação no público. Inspirado na vida de Al Capone, a trama retrata o domínio do crime organizado sobre a sociedade americana. Na abertura do longa, o espectador é advertido de que a obra consiste em crítica à inércia do governo diante do problema. Paul Muni (A Vida de Émile Zola e A História de Louis Pasteur) dá corpo a Tony Camonte, o frio, violento e incestuoso personagem-título. Também no elenco, Boris Karloff.

Na explosiva Chicago do fim dos anos 1920 e início da década seguinte (época da Lei Seca), delinquentes controlam o comércio ilegal de bebidas alcoólicas. O ítalo-americano Scarface, em começo de carreira, integra o baixo escalão de uma das gangues que age no ramo. Rapidamente, Scarface ("Cara de Cicatriz") – apelido íntimo de Al Capone – ascende no grupo.

Com brutalidade, audácia, tiros e socos, o ambicioso anti-herói assume o comando da quadrilha. Nessa guerra interna, conquista, além do posto, a mulher do chefe.

A mudança de posição na hierarquia coincide com a posse da submetralhadora portátil modelo Thompson M1928, que "varre os inimigos". Scarface reconhece nessa arma fonte de poder. "O poder político nasce do fuzil", salientou, em 1938, o líder comunista chinês Mao Tsé-Tung.


Paul Muni (C) interpreta o personagem-título do filme de Hawks

Baseado em fatos reais, a película tem cenas memoráveis. Como o emblemático Massacre do Dia de São Valentim, em 1929. Nesse dia, sete homens de um bando rival de Al Capone foram fuzilados. Na comédia Quanto Mais Quente Melhor (1959), de Billy Wilder, os músicos interpretados por Tony Curtis e Jack Lemmon testemunham o evento, o que provoca a fuga da dupla.

Em 1983, Brian De Palma realizou o remake de Scarface. No papel central, Al Pacino. O trabalho de De Palma, dedicado a Hawks e Hecht, tem traços bem distintos do original. Naquele, Al Pacino vive um emigrado cubano, contrário ao regime socialista da ilha, que chega aos Estados Unidos para vencer no tráfico de cocaína.

A primeira versão de Scarface permanece, depois de tanto tempo, um intocável marco cinematográfico do gênero policial.

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Duelo de Titãs

Filme diretamente influenciado por Matar ou Morrer, sensacional western com Gary Cooper, Duelo de Titãs (Last Train From Gun Hill, Estados Unidos, 1959) traz no elenco os astros Kirk Douglas e Anthony Quinn. Realizado por John Sturges (Sete Homens e um Destino e Fugindo do Inferno), Duelo de Titãs mantém pontos em comum com a obra-prima dirigida por Fred Zinnemann.

A vida do xerife Matt Morgan (Douglas) se transforma quando sua mulher morre violentada por dois vaqueiros. Ela é índia, o que provoca o desprezo dos algozes. Matt agarra-se a duas pistas: a cela com as iniciais de Craig Belden (Quinn) e ao fato de que um dos criminosos tem uma ferida no rosto. Determinado a prender os culpados, parte de trem para a cidade de Gun Hill, onde espera capturá-los.

Matt procura Craig, o homem mais poderoso e temido da região.  Os dois, na realidade, são velhos amigos que há anos não se veem. Do encontro caloroso nasce a certeza, em ambos, de que o único filho de Craig é o principal envolvido no delito. Em Gun Hill, ninguém, nem mesmo a autoridade policial local, está disposto a ajudar o herói, com exceção da prostituta Linda (Carolyn Jones).  

O herdeiro cai nas mãos do forasteiro, que o leva algemado e desmaiado ao hotel. No quarto, Matt aguarda o trem das 9h da noite para retornar. Furioso, o pai e seus capangas tentam resgatá-lo. Acuado, sob tiros e golpes de astúcia de Craig, Matt resiste. Precisa conduzir o bandido a julgamento. Antes de embarcar, enfrenta derradeiro obstáculo, o duelo com o melhor amigo.


Kirk Douglas enfrenta a hostilidade dos moradores de uma cidade

A cena do quarto do hotel – homem algemado sob o domínio da arma de outro – foi repetida em Ambição Acima da Lei,  western dirigido, estrelado e produzido por Kirk Douglas em 1975. Porém, neste caso, a situação inverteu-se, com Kirk subjugado. Sutilezas do cinema.

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Kanal

Kanal (Polônia, 1957) é o segundo filme do prestigiado cineasta Andrzej Wajda, realizador de Cinzas e Diamantes e Lotna. Também trata da experiência polonesa na Segunda Guerra Mundial.

À época do lançamento, Kanal causou forte impressão em festivais. As imagens de combatentes irregurales poloneses nos esgotos da capital Varsóvia, destroçada pelos alemães, são, sem dúvida, espetaculares.


Sequências nos esgotos de Varsória causam forte impressão

A história se passa em 1944, quando a cidade se revolta contra a ocupação nazista. O Exército Clandestino Polonês, que conduz a revolta, espera a chegada em breve dos soviéticos. Porém, as forças de Stalin interrompem o avanço. A resistência dura 63 dias. Milhares de civis foram assassinados.

Wajda acompanha a luta final de uma unidade de insurretos. Desde o início do drama, quando a câmera acompanha a marcha do grupo, o espectador sabe o destino de cada patriota – a morte. Quem diz é o próprio narrador, que apresenta os personagens principais.

A batalha primeiro se trava nos escombros dos prédios. O poder de fogo alemão obriga a tropa a bater em retirada. Os canais subterrâneos são o caminho de fuga. Mesmo com alguma relutância, todos seguem a ordem. No labirinto de excrementos, lutam desesperadamente pela vida e pela vitória. Enfrentam gases, tiros e armadilhas do inimigo. Onde está a saída? Onde está a saída?

Ao lado de Geração e Cinzas e Diamantes, Kanal integra a chamada Trilogia da Guerra de Wajda. O próprio Wajda lutou na resistência polonesa. O pai do cineasta foi morto na floresta de Katyn, em uma execução em massa contra acusados de espionagem promovida por agentes soviéticos. Em 2007, o diretor realizou o longa Katyn. 

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Gilda

Quando se pensa em Rita Hayworth,  Gilda (Estados Unidos, 1946) surge automaticamente. Ápice do estilo noir, o drama imortalizou a atriz como símbolo sexual de Hollywood. O diretor Charles Vidor soube conduzir o filme de forma eficiente. Extraiu o máximo da beleza e capacidade de interpretação de Rita, que compôs com Glenn Ford o par romântico da trama.

O jogador de dados e cartas Johnny Farrell (Ford) – também narrador da história – chega a Buenos Aires, na Argentina, em 1945. Durão e trapaceiro, Farrell, que quer recomeçar a vida, torna-se o homem de confiança de Ballin Mundson (George Macready), dono do luxuoso cassino clandestino. O patrão viaja. Retorna, agora casado com a ex-dançarina Gilda (Rita).

Farrell e Gilda são, na realidade, antigos amantes. Os dois, sem muito sucesso, procuram esconder o passado. O marido desconfia. A situação leva Farrell a  agir com cautela. Precisa resolver ou esquivar-se dos problemas causados pela provocante mulher do chefe. Resistir a Gilda?

Ballin conserva outros negócios escusos. Mantém ligação com investidores nazistas. A Argentina, deve-se frisar, foi receptiva às ideias da direita radical europeia e refúgio para criminosos de guerra.

Para instigar ciúmes em Farrell, a musa protagoniza um dos momentos sensuais mais célebres do cinema. Dentro do vestido longo negro, canta, dança e tira a luva ao som da música Put the Blame on Mame. A plateia delira. A fama de Rita Hayworth vem, sobretudo, dessa cena.


Rita Hayworth protagoniza cena sensacional

Modelo da femme fatale, Gilda, como gosta de dizer, tem "dificuldade para fechar o zíper" da roupa. "Se eu fosse uma fazenda, não teria cercas", define-se. Gilda – a mulher e o filme – é espetáculo único. 

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

A Grande Guerra

Mestre da comédia, Mario Monicelli, de O Incrível Exército de Brancaleone (1966) e Meus Caros Amigos (1975), dosou humor e drama para realizar A Grande Guerra (Itália, 1959). O filme acompanha a trajetória de dois soldados durante a campanha italiana na Primeira Guerra Mundial (1914-1918). Nos papéis principais, os astros Alberto Sordi, que interpreta o romano Oreste Jacovacci,  e Vittorio Gassman, na pele do milanês Giovanni Busacca.


Os astros Alberto Sordi e Vittorio Gassman lutam em trincheiras

Contraditórios, Jacovacci e Busacca  misturam malandragem, covardia e heroísmo para sobreviver ao conflito, uma guerra total. Do momento do alistamento, quando Jacovacci trapaceia o refratário Busacca, ao combate nas lamacentas trincheiras contra as forças austríacas, os dois utilizam o que têm em mãos para se manterem vivos. O tempo é de colapso social, econômico e moral. Dos escombros da carnificina, uma nova, instável e sombria Europa emergirá.

Pelo senso crítico, duas passagens merecem menção. Um general – homem distante da realidade das tropas – experimenta a comida dos soldados. Todos sabem, inclusive o oficial, que o gosto é horrível, mas o descontentamento não pode ser expresso pelos subordinados. Na outra, Jacovacci mostra alegria ao dizer que uma criança nascida em 1916 não vestirá farda num confronto bélico – 23 anos depois, em 1939, estoura a Segunda Guerra Mundial, que dura até 1945. A Itália luta, de forma ineficaz, em ambos eventos.

A Grande Guerra recebeu o Leão de Ouro – o prêmio de melho filme – no Festival Internacional de Cinema de Veneza de 1959. Dois anos antes, Stanley Kubrick lançou Glória Feita de Sangue, com Kirk Douglas, a respeito da falta de escrúpulos de integrantes do Estado-Maior francês na Primeira Guerra Mundial.

Acontecimentos no front italiano serviram de inspiração para Ernest Hemingway escrever o romance Adeus às Armas. O livro recebeu adaptações para o cinema.