Este espaço é sobre cinema clássico, de obras consagradas a esquecidas. Dedico a meus pais, que, nas longínquas noites de Santa Maria (RS) do final dos anos 70 e início dos 80, permitiam que eu visse filmes na TV. Foi quando descobri o grande espetáculo – Ben-Hur, Cleópatra, El Cid, Lawrence da Arábia, Doutor Jivago. Parafraseando o escritor argentino Jorge Luis Borges, foram os primeiros que vi, e, possivelmente, serão os últimos.
quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013
O Céu Pode Esperar
O
primeiro trabalho do ator Warren Beatty atrás das câmeras, a comédia O Céu Pode
Esperar (Heaven Can Wait, Estados
Unidos, 1978), alcançou merecido êxito – e o Oscar de Melhor Direção de Arte.
Codirigido por Beatty e Buck Henry, é uma ótima refilmagem de Que Espere o Céu
(Here Comes Mr. Jordan, Estados Unidos, 1941), de Alexander Hall.
Beatty
interpreta Joe Pendleton, atleta de futebol americano que se prepara para o
maior o momento da carreira, o Super Bowl. Antes da decisão, morre atropelado. A caminho do "céu", descobre-se o erro. O óbito deve ocorrer em 2025. Jordan
(James Manson), responsável pela "triagem celestial", procura novo corpo para
Joe. O escolhido é o do idoso Leo
Farnsworth, poderoso e inescrupuloso industrial, recém-assassinado pela esposa
Julia (Dyan Cannon) e o secretário Tony Abbott (Charles Grodin), ambos amantes.
Warren Beatty (E) interpreta atleta de futebol americano |
Perante
os olhos dos vivos, Joe tem a voz e a aparência de Farnsworth. Mas age de
maneira bastante diferente, o que provoca situações hilárias. Apaixona-se pela
ativista Betty Logan (Julie Christie). Ela luta a favor da preservação da
comunidade ameaçada por uma refinaria do empresário.
Joe quer recuperar a forma física e atuar no time do Rams. Para isso, convida o amigo e técnico Max Corkle (Jack Warden). Relutante, Max acaba convencido da verdadeira identidade de Farnsworth. Enquanto treina com os veteranos mordomos, o milionário compra o clube. Tudo por mais uma chance de jogar.
Joe quer recuperar a forma física e atuar no time do Rams. Para isso, convida o amigo e técnico Max Corkle (Jack Warden). Relutante, Max acaba convencido da verdadeira identidade de Farnsworth. Enquanto treina com os veteranos mordomos, o milionário compra o clube. Tudo por mais uma chance de jogar.
Algumas
diferenças entre as obras de Hall e Beatty merecem atenção especial. No
original, o protagonista, interpretado por Robert Montgomery, é um boxeador que
assume o corpo de um jovem rico. A versão de Beatty traz à baila a discussão
sobre o avanço descontralado do capital e o consequente desequilíbrio
ambiental. Em 1941, o papel de Jordan pertenceu a Claude Rains.
Após a experiência de O Céu Pode Esperar, o realizador
Beatty triunfou, em 1981, com Reds. O longa conta a vida do jornalista e
escritor comunista americano John Reed, testemunha ocular da Revolução
Bolchevique.
quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013
Viridiana
Figura
proeminente do movimento surrealista, o diretor espanhol Luis Buñuel construiu
sólida carreira. Conquistou fama
internacional ao realizar trabalhos aclamados pelo público e crítica. Na lista,
Um Cão Andaluz, A Idade do Ouro, Ensaio de Um Crime, A Bela da Tarde, Tristana.
Entre os marcos, Viridiana (Espanha, 1961). A obra dividiu a Palma de Ouro, prêmio para o melhor
filme do Festival de Cannes, na França, com Uma Tão Longa Ausência, de Henri
Colpi.
Surpreende
o fato de o exilado Buñuel, intelectual republicano e anticlerical, ter
permissão para gravar Viridiana na Espanha franquista. O regime, de extrema
direita, proibiu a exibição do longa.
Antes
de fazer os votos, a noviça Viridiana (Silvia Pinal) recebe a ordem da madre
superiora de visitar o tio don Jaime (Fernando Rey), único parente vivo. Don
Jaime logo se encanta com a beleza da sobrinha, muito parecida com sua falecida
esposa. Quer que ela abandone a vida religiosa, permaneça na mansão e se case
com ele. Chega a drogar a jovem, a fim
de alcança o objetivo.
Durante o trajeto de retorno ao convento, Viridiana recebe a
notícia da morte do pervertido sedutor. De posse da casa, alberga mendigos,
dando-lhes comida, teto e labor. A "utopia" caridosa não surte o
efeito desejado. A presença do filho de don Jaime, Jorge (Francisco Rabal),
outro elemento da trama, desestrutura a vida e muda a sorte da personagem
central.
Em plano memorável, Buñuel reproduz o afresco A Última Ceia |
Os mendigos aproveitam a ausência de Viridiana e Jorge para
promover orgia de gula, sexo e violência. No banquete dos humildes, no plano
mais célebre e polêmico do longa, Buñuel reproduz o afresco A Última Ceia, de
Leonardo da Vinci. Pode-se presumir o efeito da imagem na plateia do cinema.
Viridiana é, por várias razões, um grande espetáculo.
terça-feira, 19 de fevereiro de 2013
A Um Passo da Eternidade
Popular e premiado drama de guerra, A Um Passo da Eternidade (From Here to Eternity, Estados Unidos, 1953) tem justificados méritos – além do famoso beijo à beira-mar. A obra ajudou a consagrar a carreira do cineasta Fred Zinnemann, de Matar ou Morrer (1952), excepcional western. Direção, roteiro, interpretações e fotografia qualificam A Um Passo da Eternidade.
A história se passa numa base militar americana no Havaí, às vésperas do ataque japonês a Pearl Harbor, em 7 de setembro de 1941. Os conflitos íntimos e sociais dos personagens, suas tragédias pessoas, ocorrem nesse panorama. Nos papéis principais, Burt Lancaster, Montgomery Clift, Deborah Kerr, Donna Reed, Frank Sinatra e Ernest Borgnine.
O soldado e ex-boxeador Robert E. Lee Prewitt (Clift) é transferido para uma companhia de fuzileiros navais. Ao chegar, é pressionado a voltar ao pugilato. O capitão e oficiais subalternos querem que ele integre a equipe da unidade. Prewitt se nega. A partir daí, começa a ser perseguido pelos superiores.
Enquanto Prewitt resiste aos exercícios e trabalhos extenuantes, o sargento Milton Warden (Lancaster) envolve-se com Karen Holmes (Deborah), esposa do capitão. O amor ilícito estabelece situações complicadas. Mas também o momento antológico do longa: na praia, deitados na areia, os dois são surpreendidos e cobertos pela onda durante o beijo.
Prewitt refugia-se nos braços de Alma Burke (Donna), profissional de uma casa noturna. Ele torna-se amigo do praça Angelo Maggio (Sinatra). Maggio, que quer apenas viver, enfrenta sérios problemas com o sádico sargento Judson, o Gordo (Borgnine). Prewitt ganha, por fim, a simpatia de Warden.
A Um Passo da Eternidade venceu o Oscar em oito categorias. Entre elas, Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Ator Coadjuvante (Sinatra) e Melhor Atriz Coadjuvante (Donna). Burt Lancaster, Montgomery Clift e Deborah Kerr, juntos, é privilégio.
A história se passa numa base militar americana no Havaí, às vésperas do ataque japonês a Pearl Harbor, em 7 de setembro de 1941. Os conflitos íntimos e sociais dos personagens, suas tragédias pessoas, ocorrem nesse panorama. Nos papéis principais, Burt Lancaster, Montgomery Clift, Deborah Kerr, Donna Reed, Frank Sinatra e Ernest Borgnine.
O soldado e ex-boxeador Robert E. Lee Prewitt (Clift) é transferido para uma companhia de fuzileiros navais. Ao chegar, é pressionado a voltar ao pugilato. O capitão e oficiais subalternos querem que ele integre a equipe da unidade. Prewitt se nega. A partir daí, começa a ser perseguido pelos superiores.
Enquanto Prewitt resiste aos exercícios e trabalhos extenuantes, o sargento Milton Warden (Lancaster) envolve-se com Karen Holmes (Deborah), esposa do capitão. O amor ilícito estabelece situações complicadas. Mas também o momento antológico do longa: na praia, deitados na areia, os dois são surpreendidos e cobertos pela onda durante o beijo.
Burt Lancarter e Deborah Kerr em beijo antológico |
Prewitt refugia-se nos braços de Alma Burke (Donna), profissional de uma casa noturna. Ele torna-se amigo do praça Angelo Maggio (Sinatra). Maggio, que quer apenas viver, enfrenta sérios problemas com o sádico sargento Judson, o Gordo (Borgnine). Prewitt ganha, por fim, a simpatia de Warden.
A Um Passo da Eternidade venceu o Oscar em oito categorias. Entre elas, Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Ator Coadjuvante (Sinatra) e Melhor Atriz Coadjuvante (Donna). Burt Lancaster, Montgomery Clift e Deborah Kerr, juntos, é privilégio.
quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013
Uma Ponte Longe Demais
O elenco estrelar de Uma Ponte Longe Demais (A Bridge Too Far, Estados Unidos, 1977) dimensiona a obra: Sean Connery, Michael Caine, Dirk Bogarde, Gene Hackman, Anthony Hopkins, Ryan O'Neal, Robert Redford, James Caan, Maximilian Schell, Laurence Olivier, Liv Ullmann. Com amplos recursos financeiros à disposição, o ator e diretor Richard Attenborough soube realizar um grande drama de guerra. O roteiro, escrito por William Goldman (Maratona da Morte), é baseado no livro homônimo do jornalista Cornelius Ryan.
Em setembro de 1944, penúltimo ano da Segunda Guerra Mundial, a vitória sobre o nazismo aproxima-se. No Oeste, os aliados ocidentais haviam desembarcado na Normandia e libertado várias regiões da França. Na frente oriental, os soviéticos marcham de forma esmagadora. A fim de acelerar o desfecho, o staff anglo-americano arrisca. Adota o plano do vaidoso marechal inglês Montegomery e lança a Operação Market Garden, gigantesca expedição de tropas aerotransportadas realizada na ocupada Holanda.
O objetivo é conquistar, atrás das linhas alemãs, pontes e, assim, garantir o avanço até o coração do Terceiro Reich. A poderosa presença do inimigo em terra surpreende as unidades aliadas. Elas estão despreparadas para o combate contra blindados.
A decolagem das aeronaves repletas de militares; o salto dos milhares de paraquedistas; os barcos de transporte sob fogo de artilharia; a troca violenta de tiros e explosões na ponte da cidade de Arnhem. Essas e outras imagens impressionam espectadores – e deliciam antigos cinéfilos, porque não são fruto de computação gráfica. Cenas emolduradas pelo heroísmo de soldados e vaidade, indisfarçável, de comandantes distantes dos campos de batalha.
Attenborough tem o senso do espetáculo. Gandhi (1982) e Uma Ponte Longe Demais exemplificam esse domínio técnico.
Em setembro de 1944, penúltimo ano da Segunda Guerra Mundial, a vitória sobre o nazismo aproxima-se. No Oeste, os aliados ocidentais haviam desembarcado na Normandia e libertado várias regiões da França. Na frente oriental, os soviéticos marcham de forma esmagadora. A fim de acelerar o desfecho, o staff anglo-americano arrisca. Adota o plano do vaidoso marechal inglês Montegomery e lança a Operação Market Garden, gigantesca expedição de tropas aerotransportadas realizada na ocupada Holanda.
O objetivo é conquistar, atrás das linhas alemãs, pontes e, assim, garantir o avanço até o coração do Terceiro Reich. A poderosa presença do inimigo em terra surpreende as unidades aliadas. Elas estão despreparadas para o combate contra blindados.
Qualidade das imagens impressiona espectadores e cinéfilos |
A decolagem das aeronaves repletas de militares; o salto dos milhares de paraquedistas; os barcos de transporte sob fogo de artilharia; a troca violenta de tiros e explosões na ponte da cidade de Arnhem. Essas e outras imagens impressionam espectadores – e deliciam antigos cinéfilos, porque não são fruto de computação gráfica. Cenas emolduradas pelo heroísmo de soldados e vaidade, indisfarçável, de comandantes distantes dos campos de batalha.
Attenborough tem o senso do espetáculo. Gandhi (1982) e Uma Ponte Longe Demais exemplificam esse domínio técnico.
terça-feira, 12 de fevereiro de 2013
O Canhoneiro de Yang-Tsé
A China contemporânea disputa a hegemonia mundial. O país, porém, esteve submetido à dominação de potências estrangeiras no passado. Parte dessa trajetória pode ser vista no clássico O Canhoneiro de Yang-Tsé (The Sand Pebbles, Estados Unidos, 1966), realizado por Robert Wise (O Dia em Que a Terra Parou e Marcado pela Sarjeta). O astro Steve McQueen interpreta o personagem central do longa, o marinheiro Jake Holman.
China, 1926. O gigante asiático é, de fato, território semicolonial. O capital internacional (inglês, francês, japonês, americano etc.), aliado às elites locais, domina a economia chinesa. Comunistas e nacionalistas lutam pela independência. A narrativa se desenvolve nesse fundo histórico.
Holman é enviado para servir na canhoneira San Pablo, da marinha de guerra americana. Excelente maquinista, tem personalidade forte, não admitindo o comodismo da tripulação. Ganha a antipatia de praças e do comandante da belonave, capitão Collins (Richard Crenna). Mas angaria a amizade do marujo Frenchy Burgoyne vivido pelo notável ator e diretor Richard Attenborough.
Washington encarrega o barco de resgatar e proteger missionários americanos ameaçados pelos distúrbios sociais. Nessa missão, Holman conhece a idealista professora Shirley Eckert (Candice Bergen). Ao contrário da moça, ele sabe que o futuro promete frustração para ambos.
Há cenas de grande dramaticidade. No bordel, a prostituta Maily (Emmanuelle Arsan), por quem Frenchy se apaixona, é "leiloada". Lance a lance, os ânimos esquentam, até que explode uma briga generalizada. Em outra sequência, militares americanos são escoltados por soldados chineses, sob chuva de comida, de volta à embarcação. Humilhados, querem as fardas incineradas. Holman pede para que a sua seja apenas lavada.
As campanhas armadas pela reconquista da independência nacional, combinadas com a luta dos camponeses pela terra, resultam na vitória dos comunistas em 1949, sintetizou o historiador Daniel Aarão Reis Filho, em A Revolução Chinesa, da Editora Brasiliense.
China, 1926. O gigante asiático é, de fato, território semicolonial. O capital internacional (inglês, francês, japonês, americano etc.), aliado às elites locais, domina a economia chinesa. Comunistas e nacionalistas lutam pela independência. A narrativa se desenvolve nesse fundo histórico.
Holman é enviado para servir na canhoneira San Pablo, da marinha de guerra americana. Excelente maquinista, tem personalidade forte, não admitindo o comodismo da tripulação. Ganha a antipatia de praças e do comandante da belonave, capitão Collins (Richard Crenna). Mas angaria a amizade do marujo Frenchy Burgoyne vivido pelo notável ator e diretor Richard Attenborough.
Washington encarrega o barco de resgatar e proteger missionários americanos ameaçados pelos distúrbios sociais. Nessa missão, Holman conhece a idealista professora Shirley Eckert (Candice Bergen). Ao contrário da moça, ele sabe que o futuro promete frustração para ambos.
Há cenas de grande dramaticidade. No bordel, a prostituta Maily (Emmanuelle Arsan), por quem Frenchy se apaixona, é "leiloada". Lance a lance, os ânimos esquentam, até que explode uma briga generalizada. Em outra sequência, militares americanos são escoltados por soldados chineses, sob chuva de comida, de volta à embarcação. Humilhados, querem as fardas incineradas. Holman pede para que a sua seja apenas lavada.
As campanhas armadas pela reconquista da independência nacional, combinadas com a luta dos camponeses pela terra, resultam na vitória dos comunistas em 1949, sintetizou o historiador Daniel Aarão Reis Filho, em A Revolução Chinesa, da Editora Brasiliense.
sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013
Nosferatu
Críticos especializados apontam Nosferatu (Nosferatu, Eine Symphonie des Grauens, Alemanha, 1922) como um dos filmes mais relevantes e belos do cinema mudo. Têm razão. Dirigido por F. W. Murnau (A Última Gargalhada, Fausto, Aurora), alcançou enorme sucesso internacional. Adaptado do romance Drácula, do irlandês Bram Stoker (1847-1912), o trabalho teve o nome alterado para Nosferatu por causa de direitos autorais.
Em 1838, o jovem corretor de imóveis Thomas Hutter (Gustav von Wangenheim) viaja aos montes Cárpatos. A missão é encontrar o conde Orlok (Max Schreck) e vender-lhe uma casa em Wisborg – cidade onde mora Hutter. No castelo mal-assombrado, o negociante, antes cético, descobre que o comprador é um aterrorizante homem das trevas, sedento por sangue humano. Ao ver o retrato de Ellen (Greta Schröder), mulher do transtornado Hutter, o vampiro apaixona-se por ela.
Orlok parte de navio para Wisborg. A bagagem... caixões abarrotados de terra e ratos. A tripulação, sem saber o que transporta, aos poucos cai doente e morre. Numa das cenas memoráveis do longa, o barco atraca vazio no porto. Ratos saem do porão. As autoridades não alimentam dúvidas de que a embarcação traz a peste.
Após desembarcar, o conde carrega o próprio ataúde pelas ruas da urbe. Ele quer morder o pescoço de Ellen e tomar-lhe a vida. Hutter corre contra o tempo para salvar a amada.
A caracterização do personagem Orlok impacta. Crânio careca e deformado; dentes, orelhas, unhas e braços compridos; corpo raquítico e vestido de negro.
Clássico do movimento expressionista nas telas, a película teve remake em 1979, o esplêndido Nosferatu, O Vampiro da Noite, pelas lentes de Werner Herzog. Nos papéis centrais, Klaus Kinski, Isabelle Adjani e Bruno Ganz. Em 2000, nova homenagem. Realizado por E. Elias Merhige, A Sombra do Vampiro, que conta a história das gravações do original, é protagonizado por John Malkovich (F. W. Murnau) e Willem Dafoe (Max Schreck).
Em 1838, o jovem corretor de imóveis Thomas Hutter (Gustav von Wangenheim) viaja aos montes Cárpatos. A missão é encontrar o conde Orlok (Max Schreck) e vender-lhe uma casa em Wisborg – cidade onde mora Hutter. No castelo mal-assombrado, o negociante, antes cético, descobre que o comprador é um aterrorizante homem das trevas, sedento por sangue humano. Ao ver o retrato de Ellen (Greta Schröder), mulher do transtornado Hutter, o vampiro apaixona-se por ela.
Orlok parte de navio para Wisborg. A bagagem... caixões abarrotados de terra e ratos. A tripulação, sem saber o que transporta, aos poucos cai doente e morre. Numa das cenas memoráveis do longa, o barco atraca vazio no porto. Ratos saem do porão. As autoridades não alimentam dúvidas de que a embarcação traz a peste.
Após desembarcar, o conde carrega o próprio ataúde pelas ruas da urbe. Ele quer morder o pescoço de Ellen e tomar-lhe a vida. Hutter corre contra o tempo para salvar a amada.
A caracterização do personagem Orlok impacta. Crânio careca e deformado; dentes, orelhas, unhas e braços compridos; corpo raquítico e vestido de negro.
Filme é um dos mais relevantes e belos do cinema mudo |
Clássico do movimento expressionista nas telas, a película teve remake em 1979, o esplêndido Nosferatu, O Vampiro da Noite, pelas lentes de Werner Herzog. Nos papéis centrais, Klaus Kinski, Isabelle Adjani e Bruno Ganz. Em 2000, nova homenagem. Realizado por E. Elias Merhige, A Sombra do Vampiro, que conta a história das gravações do original, é protagonizado por John Malkovich (F. W. Murnau) e Willem Dafoe (Max Schreck).
terça-feira, 5 de fevereiro de 2013
M, o Vampiro de Düsseldorf
Obra-prima do diretor e roteirista Fritz Lang, M, o Vampiro de Düsseldorf (M, Eine Stadt Sucht Einen Mörder, Alemanha, 1931) integra a lista das principais produções do cinema mundial. Ao lado de Dr. Mabuse, o Jogador (1922) e Metrópolis (1927), representa o auge do realizador. A interpretação fulgurante do ator Peter Lorre o tornou um mito da sétima arte.
Originalmente, o título era Os Assassinos Estão Entre Nós. Mas, em decorrência de ameaças do já poderoso Partido Nazista, o nome foi alterado, pois poderia ser interpretado como alusão à malta hitlerista. O M deriva da palavra mörder, assassino no idioma de Goethe.
Na Alemanha entreguerras, o serial killer Hans Beckert (Lorre) sequestra e mata crianças. A população mergulha no pânico. As autoridades, mobilizadas pela pressão da comunidade, fazem buscas nas ruas e buracos enfumaçados. Suspeita-se de todos – o maníaco pode ser o colega de trabalho, o vizinho, o transeunte.
A caçada policial traz problemas para as organizações criminosas, que veem seus rendimentos despencarem. Os líderes das gangues encontram uma saída: capturá-lo e, eles mesmos, julgá-lo. Aliam-se à associação de mendigos, espalhando vigias em vários pontos da cidade. Ao identificá-lo, a letra M é grafada em suas costas.
Primeiro longa sonoro do realizador austríaco, M, o Vampiro de Düsseldorf afasta-se da corrente expressionista e aproxima-se do realismo social. Em Dicionário de Cinema - Os Diretores, da editora L&PM, Jean Tulard destaca a importância da película. "Inspirando-se numa história policial, a obra era uma evocação alucinante do mundo das quadrilhas. Além de Peter Lorre, toda a sociedade alemã era acusada. A utilização do som mostrava por outro lado o quanto Lang havia dominado perfeitamente o cinema falado."
Marido e mulher, Lang e Thea von Harbou, roteiristas do filme, tiveram destinos opostos. Ele partiu para o exílio, enquanto ela permaneceu em Berlim, servindo aos novos senhores e carrascos. Os dois se divorciaram em 1934. Lorre, judeu nascido László Löwenstein, escapou da perseguição nazista. Atuou em clássicos, como Relíquia Macabra (1941) e Casablanca (1942).
Originalmente, o título era Os Assassinos Estão Entre Nós. Mas, em decorrência de ameaças do já poderoso Partido Nazista, o nome foi alterado, pois poderia ser interpretado como alusão à malta hitlerista. O M deriva da palavra mörder, assassino no idioma de Goethe.
Na Alemanha entreguerras, o serial killer Hans Beckert (Lorre) sequestra e mata crianças. A população mergulha no pânico. As autoridades, mobilizadas pela pressão da comunidade, fazem buscas nas ruas e buracos enfumaçados. Suspeita-se de todos – o maníaco pode ser o colega de trabalho, o vizinho, o transeunte.
A caçada policial traz problemas para as organizações criminosas, que veem seus rendimentos despencarem. Os líderes das gangues encontram uma saída: capturá-lo e, eles mesmos, julgá-lo. Aliam-se à associação de mendigos, espalhando vigias em vários pontos da cidade. Ao identificá-lo, a letra M é grafada em suas costas.
Atuação de Peter Lorre o tornou um mito do cinema |
Primeiro longa sonoro do realizador austríaco, M, o Vampiro de Düsseldorf afasta-se da corrente expressionista e aproxima-se do realismo social. Em Dicionário de Cinema - Os Diretores, da editora L&PM, Jean Tulard destaca a importância da película. "Inspirando-se numa história policial, a obra era uma evocação alucinante do mundo das quadrilhas. Além de Peter Lorre, toda a sociedade alemã era acusada. A utilização do som mostrava por outro lado o quanto Lang havia dominado perfeitamente o cinema falado."
Marido e mulher, Lang e Thea von Harbou, roteiristas do filme, tiveram destinos opostos. Ele partiu para o exílio, enquanto ela permaneceu em Berlim, servindo aos novos senhores e carrascos. Os dois se divorciaram em 1934. Lorre, judeu nascido László Löwenstein, escapou da perseguição nazista. Atuou em clássicos, como Relíquia Macabra (1941) e Casablanca (1942).
sábado, 2 de fevereiro de 2013
Um Dia de Cão
Nova York, tarde de 22 de agosto de 1972. No bairro Brooklyn, dois embaraçados ladrões assaltam um banco. A ação, prevista para ser rápida e eficiente, é interrompida pela chegada da polícia. Cercados, mantêm reféns os empregados do estabelecimento. Querem um jato para escapar e levar o dinheiro. Medo e expectativa. Autoridades e o bandido Sonny negociam.
O episódio, verídico, foi transformado no sensacional Um Dia de Cão (Dog Day Afternoon, Estados Unidos, 1975), do cineasta Sidney Lumet. Al Pacino e John Cazale formam a dupla criminosa. Também atuam Charles Durning e Chris Sarandon. O longa venceu o Oscar na categoria Melhor Roteiro Original.
Sonny (Al Pacino) e Sal (Cazale) permanecem durante horas sitiados pelos agentes de segurança e imprensa. Diante do prédio, Sonny conversa com o oficial Moretti (Durning), a fim de solucionar o caso. Numa das melhores cenas, Al Pacino empolga a multidão de curiosos aos gritos de "Attica", "Attica", "Attica", em referência à revolta de presos que terminou com dezenas de mortos.
Além da interpretação impressionante de Al Pacino, outro ponto que merece realce é o desempenho da mídia. Profissionais da TV – muitos trabalham lado a lado com os homens da lei – exploram a imagem de Sonny, dando-lhe glamour e a chance de torna-se herói. A razão do roubo, afinal, reside na vida privada do personagem, o que surpreende o espectador.
Lumet, diretor de Doze Homens e Uma Sentença, soube realizar um policial envolvente, com doses cômicas, sobretudo na primeira metade do filme. Antes de Um Dia de Cão, Al Pacino havia trabalhado em O Poderoso Chefão, I e II, assim como John Cazale (o Fredo Corleone).
O episódio, verídico, foi transformado no sensacional Um Dia de Cão (Dog Day Afternoon, Estados Unidos, 1975), do cineasta Sidney Lumet. Al Pacino e John Cazale formam a dupla criminosa. Também atuam Charles Durning e Chris Sarandon. O longa venceu o Oscar na categoria Melhor Roteiro Original.
Sonny (Al Pacino) e Sal (Cazale) permanecem durante horas sitiados pelos agentes de segurança e imprensa. Diante do prédio, Sonny conversa com o oficial Moretti (Durning), a fim de solucionar o caso. Numa das melhores cenas, Al Pacino empolga a multidão de curiosos aos gritos de "Attica", "Attica", "Attica", em referência à revolta de presos que terminou com dezenas de mortos.
Atuação extraordinária de Al Pacino é uma das atrações do filme |
Além da interpretação impressionante de Al Pacino, outro ponto que merece realce é o desempenho da mídia. Profissionais da TV – muitos trabalham lado a lado com os homens da lei – exploram a imagem de Sonny, dando-lhe glamour e a chance de torna-se herói. A razão do roubo, afinal, reside na vida privada do personagem, o que surpreende o espectador.
Lumet, diretor de Doze Homens e Uma Sentença, soube realizar um policial envolvente, com doses cômicas, sobretudo na primeira metade do filme. Antes de Um Dia de Cão, Al Pacino havia trabalhado em O Poderoso Chefão, I e II, assim como John Cazale (o Fredo Corleone).
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