sexta-feira, 29 de março de 2013

O Planeta dos Macacos

Ator sensacional, conhecido pelos épicos Os Dez Mandamentos, Ben-Hur e El Cid, Charlton Heston protagonizou o clássico de ficção científica O Planeta dos Macacos (Planet of the Apes, Estados Unidos, 1968), dirigido por Franklin J. Schaffner. Baseado no romance homônimo de Pierre Boulle, o mesmo autor de A Ponte do Rio Kwai, o longa atingiu rapidamente o status de cult.

Comandante de uma missão espacial, o astronauta Taylor (Heston) aterrissa em um planeta, aparentemente, muito similar a Terra. Atrás de formas vivas, descobre que o local é governado por impiedosos macacos falantes. Os homens, mudos, são escravos. Na sociedade símia, o homem é tratado como semovente, ser desprovido de razão mas com movimentos.


Charlton Heston protagoniza clássico de ficção científica
 
Ferido e capturado, Taylor é levado ao laboratório da psiquiatra Zira (Kim Hunter). Ela suspeita que os macacos descendem dos humanos. A teoria, considerada "herética", recebe duros ataques das autoridades. Entre os principais críticos está o doutor Zaius (Maurice Evans), responsável pelo controle da religião e da ciência. A nova civilização não admite que Taylor tenha viajado no tempo e no espaço. Não admite que ele raciocine. O homem, segundo a legislação, é um animal perigoso, violento e ganancioso.

A fim de provar a verdade, Taylor faz dolorosa jornada. Afinal, o que aconteceu com o Homo sapiens?

O Planeta dos Macacos teve quatro continuações. Houve também refilmagem, feita por Tim Burton. Inclusive resultou em série televisiva, desenho animado e história em quadrinhos. No Brasil, o programa humorístico Planeta dos Homens, da Rede Globo, marcou época.

A lista de sucessos de Schaffner é significativa. Patton (1970), Papillon (1973) e Os Meninos do Brasil (1978) alcançaram enorme fama.

terça-feira, 26 de março de 2013

O Leopardo

Êxito pleno, O Leopardo (Il Gattopardo, França-Itália, 1963), dirigido por Luchino Visconti, é um marco cinematográfico. Adaptação do romance homônimo de Giuseppe Tomasi di Lampedusa (1896-1957) – críticos compararam o livro a Guerra e Paz, do russo Leon Tolstói (1828-1910) –, o filme venceu a Palma de Ouro, o principal prêmio do Festival de Cannes, na França. À frente do elenco, o extraordinário Burt Lancaster, Alain Delon e Claudia Cardinale.

O processo de unificação italiana no século 19, no prisma da decadente aristocracia siciliana, é o tema da produção. O príncipe Fabrizio de Salina (Lancaster), O Leopardo do título, seu personagem central. Sob o olhar resignado de Fabrizio, a velha classe dominante perde espaço para a ascendente burguesia. Ele tem visão arguta da realidade: "As coisas devem mudar para continuarem as mesmas".

O sobrinho do nobre, o ambicioso Tancredi (Delon) – nobre arruinado –, junta-se, primeiro, às forças populares garibaldinas, depois, aos realistas. O príncipe aposta em Tancredi. Por isso, articula o casamento dele com a filha de um rico plebeu, a deslumbrante Angelica (Claudia). Vê-se a aliança de elites, a crepuscular e a emergente. Aquela, ávida por manter os valores tradicionais; esta, por ser aceita no seio dos expoentes do antigo regime.

Ancorado por erudição e apurado senso estético, Visconti oferece ao público o grande espetáculo. A música de Giuseppe Verdi e a pintura italiana oitocentista impregnam a película. A arte pictórica inspira inúmeros momentos do drama. Os quadros A Liberdade Guiando o Povo, de Eugène Delacroix, e Os Fuzilamentos de Três de Maio, de Francisco Goya, inspiram sequências da conquista de Palermo, em 1860. O retrato de Verdi realizado por Giovanni Boldini foi utilizado para compor a imagem do príncipe ao final do pomposo baile.


Burt Lancaster e Claudia Cardinale valsam no filme

A festa, que serve para a alta sociedade conhecer Angelica, representa o clímax do longa. A beleza da fotografia impressiona. Na reunião de todos os protagonistas, o passado e o futuro encontram-se.

Além de O Leopardo, Visconti rodou outras obras-primas. Rocco e Seus Irmãos (1960) e Morte em Veneza (1971) mostram o talento do cineasta.

terça-feira, 19 de março de 2013

Casablanca

Casablanca (Estados Unidos, 1942) é fenomenal. Sem a pretensão de ser grandioso, tornou-se, com o passar do tempo, obra mítica. Pertencente ao esforço de propaganda antinazista, o drama romântico tem elementos proeminentes que o sustentam: qualidade dos diálogos, trilha sonora, atuação do elenco, formado por atores de alta categoria. Humphrey Bogart, Ingrid Bergman, Paul Henreid, Claude Rains, Peter Lorre, Sydney Greenstreet e Conrad Veidt brilham na tela.

Fatores conduzidos magistralmente pelo realizador Michael Curtiz. Produzido pela Warner Bros., o longa tem o roteiro assinado por Julius J. Epstein, Philip G. Epstein e Howard Koch. Ganhou o Oscar nas categorias Melhor Filme, Melhor Diretor e Melhor Roteiro Adaptado.

Durante a Segunda Guerra Mundial, muitos refugiados tentam escapar das atrocidades do Terceiro Reich. A marroquina Casablanca, administrada pela França de Vichy – governo colaboracionista –, serve de escala para Lisboa, daí à América. Ugarte (Lorre), responsável pela morte de dois alemães, é perseguido. De posse de documentos valiosos, que permitem a qualquer portador viajar, busca ajuda do cínico Rick (Bogart), americano dono do mais badalado café e cassino clandestino da cidade.

Atrás dos vistos, aparece o casal Victor Laszlo (Henreid) e Ilsa Lund (Ingrid) – em poucas tomadas se viu mulher tão bela no cinema. Pesa sobre Laszlo, um dos líderes da resistência tcheca, a ameaça iminente de prisão e deportação. Mas Rick, o único que pode ajudá-los, tem antigo e mal resolvido caso com Ilsa. Os dois se conheceram em Paris, antes da ocupação do inimigo.


Bogart e Ingrid têm atuações inesquecíveis em grande clássico

O chefe de Polícia capitão Louis Renault (Rains) pactua com o major Heinrich Strasser (Veidt) no cerco a Laszlo. Corrupto e inescrupuloso, Renault mantém com Rick proveitosa e ambígua relação.

A série de cenas inesquecíveis impressiona. Ilsa, ao surgir, reconhece o pianista Sam (Dooley Wilson). A musa  quer que ele toque As Time Goes By. Em meio ao canto nazista dos oficiais alemães, Laszlo pede A Marselhesa. Com a anuência de Rick, a orquestra executa o hino francês, acompanhada por patriotas empolgados.

O personagem interpretado por Bogart deve resolver o dilema entre o amor de Ilsa e os ditames da luta pela libertação. Em certos momentos, sabe Rick, os problemas individuais perdem importância frente a catástrofes históricas.

Assisti a Casablanca cerca de 15 vezes. O espectador, como o banhista e o rio do dialético Heráclito, nunca é o mesmo. "Play it, Sam. Play As Time Goes By." Afinal, "nós sempre teremos Paris".

sábado, 16 de março de 2013

Chove Sobre Santiago

O golpe militar no Chile completa 40 anos em 11 de setembro de 2013.  Data funesta. Chove Sobre Santiago (Il Pleut sur Santiago, França-Bulgária, 1975), dirigido pelo chileno Helvo Soto, retrata, de forma emocionante, os eventos da época. Da vitória eleitoral que conduziu o senador marxista Salvador Allende à presidência ao levante fascista de 1973, que submeteu o povo à ditadura do general Augusto Pinochet.

Soto utiliza o flashback, técnica narrativa que traz ao presente fatos passados, para contar a história. Em setembro de 1970, Allende ganha o pleito. A direita, sustentada sobretudo pelos Estados Unidos – o Brasil também contribui –, reluta em admitir o resultado. A vitória da Unidade Popular, coligação de partidos de esquerda (Comunista, Socialista etc.), muda os rumos da sociedade.

Melhores condições de vida – agora há leite para todas as crianças – e nacionalização de fábricas são promovidas. Os operários controlam meios de produção. A radicalização do regime, que adota a via democrática para a revolução, desagrada às forças conservadoras. A reação burguesa espalha-se, angariando apoio de setores políticos, empresarias e militares. A dissimulação avança, com conspiradores do Exército garantindo o respeito à Constituição enquanto preparam o putsch.

Tanques e soldados cruzam a capital Santiago. A resistência ocorre em locais de trabalho, moradia, estudo e no Palácio La Moneda. Os combates na sede do governo tem comovente dramaticidade. Atacado por metralhadoras e bombardeado por blindados e aviões, transforma-se em palco da morte de Allende e de correligionários. Os novos donos do poder afirmam que o presidente se suicidou. Em cena antológica, o poeta Pablo Neruda é enterrado sob gritos de "companheiro Neruda! Presente, agora e sempre!", "companheiro Salvador Allende! Presente, agora e sempre!", "povo chileno! Presente, agora e sempre!".


Militares golpistas cometem assassinatos e realizam prisões arbitrárias

A partir da ruptura, os militares espalham o terror. Grassam atos ilegais, como prisões arbitrárias, espancamentos e fuzilamentos de opositores. A barbárie triunfa. Cerca de 3 mil pessoas foram assassinadas durante os 17 anos de repressão de Pinochet.

O longa foi rodado na Bulgária. A trilha musical, do argentino Astor Piazzolla, sensibiliza o espectador. Algo jamais a ser esquecido.

terça-feira, 12 de março de 2013

Inferno na Torre

Nos anos 70, Paul Newman e Steve McQueen eram nomes badalados nas salas de cinema. Os dois dividiram os papéis principais de Inferno na Torre (The Towering Inferno, Estados Unidos, 1974), do diretor John Guillermin, um dos melhores exemplos do gênero catástrofe. Além disso, ambos receberam a mesma remuneração e, a pedido de McQueen, tiveram igual número de linhas de diálogo no script. Um punhado de astros completa a superprodução: William Holden, Faye Dunaway, Fred Astaire, Jennifer Jones, Richard Chamberlain, Robert Wagner.

Newman interpreta Doug Roberts, o arquiteto responsável pelo projeto do edifício A Torre de Vidro, de 138 andares, o maior do mundo. Erguido na cidade de São Francisco, o arranha-céu representa o orgulho da engenharia e do proprietário James Duncan (Holden).

Na festa de inauguração do empreendimento, no restaurante panorâmico do topo, as coisas correm mal. O genro de Duncan, o inescrupuloso Roger Simmons (Chamberlain), utilizou material elétrico de qualidade aquém das especificações técnicas, causando incêndio devastador. O fogo se alastra, provocando desespero, morte e o isolamento dos convidados.

Newman e McQueen são protagonistas de filme catástrofe

Os bombeiros são chamados. Michael O'Hallorhan (McQueen) comanda a operação de combate às chamas e de resgate. As condições do sinistro, porém, praticamente impossibilitam a tarefa dos profissionais – muitos deles heróis anônimos. A construção é alta demais para o trabalho dos bombeiros. Nesse momento de grande tensão, Doug e Michael unem suas habilidades para, com ousadia e inteligência, salvar o máximo de vidas.

A obra reforça a ideia, no espectador, de que a segurança deve ser a prioridade. Inferno na Torre venceu o Oscar nas categorias Melhor Edição, Melhor Fotografia e Melhor Canção Original. Um filme atual.

sexta-feira, 8 de março de 2013

A Mesa do Diabo

Dinheiro grosso, ambiente enfumaçado, jazz, Ray Charles, New Orleans e os astros Steve McQueen, Edward G. Robinson, Karl Malden e Ann-Magret. Essas são as cartas e os naipes de A Mesa do Diabo (The Cincinnati Kid, Estados Unidos, 1965), dirigido por Norman Jewison, de No Calor da Noite (1967) e Um Violinista no Telhado (1971). O drama retrata os subterrâneos do pôquer, da ambição pelo lucro à desonestidade, da euforia à ruína da derrota – o vício da aposta, aliás, foi descrito no romance O Jogador, do russo Fiódor Dostoiévski.

Na década de 1930, o jovem ás Cincinnati Kid (McQueen) se prepara para enfrentar o velho mestre Lancey Howard (Robinson). Acostumado a esmagar oponentes e a frequentar as mais fortes arenas do país, onde transitam as cobras criadas do baralho, Lancey aceita o embate. Ao enfrentar um otimista adversário em ascensão, deve provar que ainda é o melhor, mesmo que a idade e o cansaço o abatam.

Escolhido o carteador, Shooter (Malden) sofre chantagem para ajudar o amigo Kid a ganhar. Ao passo que a honra profissional de Shooter desmorona em cima do pano verde, sua mulher, a bela Melba (Ann-Magret), insiste em entregar-se a Kid.


McQuenn, Malden e Robinson transitam nos subterrâneos do pôquer
 
Olho no olho, hora a hora, as rodadas se sucedem.  Nove, dez, valetes, damas, reis – os lances fazem os dólares passarem de bolso a bolso. Quem tiver os nervos de aço, a fleuma do toureiro diante da fera, e realizar a jogada, mesmo errada, no momento correto, vence.

Pode-se sustentar que o filme de Jewison representa a versão sobre pôquer de Desafio à Corrupção (1961), de Robert Rossen, obra-prima sobre sinuca protagonizada por Paul Newman. Apesar de não ter o mesmo charme, assistir A Mesa do Diabo, com Steve McQueen, Edward G. Robinson e Karl Malden juntos, equivale a formidáveis cartas na mão.

quarta-feira, 6 de março de 2013

A Paixão de Joana d'Arc

O drama A Paixão de Joana d'Arc (La Passion de Jeanne d'Arc, França, 1928) mantém-se vivo como um dos grandes monumentos do cinema. Dirigido com maestria pelo dinamarquês Carl Theodor Dreyer, narra o julgamento e a morte na fogueira, em 1431, da heroína e padroeira da França. Direção, roteiro, fotografia e atuações, sobretudo a da atriz Renée Jeanne Falconetti, impressionam. O poeta e dramaturgo Antonin Artaud participa do elenco.

Durante a Guerra dos Cem Anos (1337 a 1453), a jovem mística Joana d'Arc comanda exércitos franceses contra os invasores ingleses. Capturada, entregue aos inimigos, é submetida a um tribunal da Igreja Católica, sob a acusação de heresia – a obra focaliza exclusivamente o processo eclesiástico.

Vestida com roupas masculinas, Joana d'Arc (Renée) surge ante o colegiado de juízes. As visões alegadas pela ré são questionadas por teólogos e padres. Eles querem que confesse a influência de Satanás. O emprego sistemático do primeiro plano, com o enquadramento dos rostos, proporciona profunda expressividade à película.  Outros momentos sensibilizam o espectador: a apresentação dos instrumentos de tortura, as humilhações na cela, a execução da pena.


Atriz Renée Jeanne Falconetti tem atuação memorável

Do ponto de vista político, a direita francesa utilizou a história da Donzela de Orléans, como também é conhecida, a seu favor. Para muitos dessa ideologia, simboliza o nacionalismo, o sentimento patriótico.

Dreyer não foi o único cineasta a retratar a vida da santa. Em 1948, Victor Fleming rodou Joana d'Arc, com Ingrid Bergman. Robert Bresson dirigiu O Processo de Joana d'Arc, em 1962, com Florence Delay. Milla Jovovich protagonizou Joana d'Arc de Luc Besson, em 1999.

PS: A primeira vez que vi A Paixão de Joana d'Arc foi com minha mãe, no lar. Agora, tive o prazer de revê-lo, no CineBancários, em Porto Alegre, com meu pai.

segunda-feira, 4 de março de 2013

A Mãe

Na década de 1920, a escola soviética de cinema dividiu com a alemã a posição de a melhor do mundo. Basta mencionar a contribuição de Serguei Eisenstein (O Encouraçado Potemkin) e Dziga Vertov (Um Homem Com Uma Câmera). Outros nomes são hoje pouco lembrados. Entre eles merece destaque o de Vsevolod Pudovkin, realizador e teórico do cinema mudo.

A montagem, ou seja, a seleção e articulação de planos, sequências e cenas, representa, conforme Pudovkin, o cerne da arte. Aplicou a concepção em filmes como A Mãe (Mat, União Soviética, 1926), baseado no romance homônimo de Máximo Gorki (1868-1936). O livro retrata o caldeirão político em que vivia a Rússia nos últimos anos do regime tsarista, derrubado em 1917.

Durante as agitações revolucionárias de 1905, uma família operária entra em colapso. O pai Vlasov (Aleksandr Chistyakov), um bêbado e fura-greve, é assassinado acidentalmente por militante amigo de seu filho, Pavel (Nikolai Batalov). A fim de ajudar o deslinde do caso, a mãe Niovna Vlasova (Vera Baranovskaya) auxilia os investigadores. O ato da viúva, de boa-fé, compromete o jovem com as autoridades públicas.

O drama provoca em Vlasova algo novo para ela, a conscientização de classe. Em momento memorável, a mãe, no meio da multidão reprimida de trabalhadores, carrega a bandeira vermelha, símbolo internacional do comunismo. Após sofrer terrível perda, lágrimas escorrem no rosto da heroína.


Filme é importante drama político produzido na União Soviética

A luta operária serviu de tema para o ótimo filme brasileiro Eles Não Usam Black-tie. Dirigido por Leon Hirszman em 1981, é a versão cinematográfica da peça de mesmo título, escrita por Gianfrancesco Guarnieri.