quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Dica do final de semana (2): A Dama de Shangai

A Dama de Shangai (The Lady from Shanghai, Estados Unidos, 1948) causou polêmica. A trama, complicada, traz a musa Rita Hayworth de cabelos curtos e louros.  Realizado por Orson Welles – tão genial diretor quanto ator –, o filme conta a história de Michael O'Hara (Welles) que se apaixona por Else (Rita), misteriosa mulher casada.

Ao invés dos longos cachos ruivos, Rita Hayworth está loura e de cabelos curtos


Enquanto viajam de Shangai a São Francisco, o marido de Elsa e seu sócio tramam uma morte forjada, o que envolve O'Hara em perigoso jogo de ambição e argúcia. A cena do tiroteio na sala de espelhos é antológica.

terça-feira, 29 de outubro de 2013

Dersu Uzala

Akira Kurosawa procurou, em suas obras, contribuir para melhorar o homem, ou mesmo um homem apenas, afirmou o diretor japonês. Essa faceta do realizador encontra-se na plenitude em Dersu Uzala (Dersu Uzala, 1975, Japão-União Soviética), vencedor do prêmio de Melhor Filme Estrangeiro no Oscar de 1976.

No começo do século 20, expedição militar russa vai ao extremo oriente do país, na fronteira com a China, a fim de determinar características topográficas da Sibéria. À frente do destacamento, o capitão Vladimir Arseniev (Yuri Solomin). Na selva inóspita, encontram o veterano caçador goldi – minoria étnica asiática – Dersu Uzala (Maksim Munzuk), que conhece as entranhas do terreno, a queda da chuva, o movimento dos animais, o sol que surge após a tempestade. A missão acolhe o desconhecido, que passa a ser o guia do grupo.

História do veterano caçador é lição humanitária

Pelo exemplo de modéstia, solidariedade, destreza e humanidade, Dersu ganha a admiração e o respeito dos russos. Sobretudo, a amizade de Arseniev, que narra, por meio de memórias, a história. Em diálogo curto, o personagem-título diz ao oficial que é preciso deixar sal, arroz e fósforo na cabana abandonada. Por quê? Futuros viajantes chegarão, e o mantimento será essencial.  Essa sabedoria é típica de Dersu, ou, quiçá, de quem vive em ambiente tão duro.

A sequência mais impressionante da película ocorre quando Dersu e Arseniev estão na estepe gelada. A escuridão se aproxima. A morte, nessas condições, é certa. Ao trabalho, ao trabalho, grita o caçador. Enquanto Arseniev se cansa de arrancar arbustos, Dersu não para de fazê-lo. Do pouco nasce um abrigo. Deste, a sobrevivência. A beleza da fotografia, aliás, como em todo o longa, chama a atenção do espectador.

O contato das duas culturas, a do caçador e a do soldado, permeia o tecido do drama Dersu Uzala. Um dos grandes feitos de Kurosawa, que ficou conhecido no ocidente principalmente pela temática do samurai. Rashomon (1950), Os Sete Samurais (1954), Kagemusha, A Sombra de um Samurai (1980) deliciaram plateias.

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Dica do final de semana (1): Uma Aventura na África

Humphrey Bogart, astro de Casablanca, e Katharine Hepburn, vencedora de quatro Oscars de melhor atriz, estão juntos em Uma Aventura na África (The African Queen, Estados-Unidos-Reino Unido, 1951).

Dirigido por John Huston, o filme narra a jornada dos dois protagonista pelo rio Congo, em 1914, no início da Primeira Guerra Mundial. Bogart, único tripulante do pequeno barco a vapor, e Katharine, missionária, unem-se numa missão improvável: afundar um navio de combate alemão.

Grandes atuações e a mão de Huston consagraram a película. Pelo papel, Bogie ganhou o Oscar de melhor ator.

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Novidade no blog

O blog passa a publicar uma dica de filme para o final de semana. Texto sucinto, com resumo da obra e outras informações básicas. As demais postagens continuam iguais.

terça-feira, 22 de outubro de 2013

A Sombra da Forca

A pena de morte suscita polêmica. A questão dos direitos humanos, a possibilidade de erro judiciário, o caráter de vingança e o fato de os índices de criminalidade não diminuírem com a punição são argumentos levantados na discussão. A respeito do tema, o diretor Joseph Losey filmou A Sombra da Forca (Time Without Pity, Reino Unido, 1957), drama empolgante. Losey, realizador de O Criado (1963), O Assassinato de Trotsky (1972) e Galileo (1975), foi acusado de comunista na década de 50, exilando-se na Inglaterra.

Em Londres, o jovem Alec Graham (Alec McCowen) é sentenciado à forca por matar a namorada. O pai de Alec, o alcoólatra David (Michael Redgrave), convencido da inocência do filho, faz tudo o que pode para anular a decisão. Com a ajuda do advogado Jeremy Clayton (Peter Cushing), David busca furos no inquérito policial, alguma pista que prove a inocência do condenado. Além das dificuldades inerentes ao problema, David enfrenta a hostilidade do preso, pronto para lançar na cara do genitor a desgraça do vício da bebida.

Atuação marcante de Michael Redgrave no papel do pai alcoólatra

A diligência leva aos ricos Stanford, cujo filho Brian (Paul Daneman) é amigo de Alec. Quais as reais teias ligam o "homicida" a Brian, Robert (Leo McKern), o chefe da família, e Honor, mulher deste? A solução do mistério é chave para encontrar, se possível, uma saída para evitar o patíbulo.

A Sombra da Forca lembra o longa Crime Verdadeiro (1999), dirigido e protagonizado por Clint Eastwood. Na película, o astro interpreta o repórter alcoólatra que investiga o caso de um negro condenado à injeção letal por matar uma branca.

Na literatura, o romance O Último Dia de um Condenado, do francês Victor Hugo (1802-1885), contribuiu para enfrentar o debate acerca da aplicação da pena capital. Verdadeiro manifesto contra essa forma de sanção, o livro mantém a atualidade.

terça-feira, 15 de outubro de 2013

Belíssima

Anna Magnani transborda talento dramático em Belíssima (Bellissima, Itália, 1951). Dirigido por Luchino Visconti, o filme mostra as qualidades que conduziram a atriz ao topo do cinema italiano. Apesar de não ser dos títulos mais conhecidos de Visconti – expoente da corrente neorrealista –, o drama faz jus ao realizador de Rocco e Seus Irmãos (1960), O Leopardo (1963) e Morte em Veneza (1971). Anna Magnani floresce como estrela em Roma, Cidade Aberta (1945), trabalho de Roberto Rossellini e um dos marcos do movimento estético.

Em Belíssima, Visconti critica as ilusões que a indústria do entretenimento cinematográfico produz. Anna interpreta Maddalena Cecconi, trabalhadora, casada e mãe da pequena Maria (Tina Apicella). Atrás de melhor futuro para a família – como tantas do pós-Segunda Guerra, em dificuldades financeiras –, ela inscreve a filha no concurso de artista mirim do Cinecittà, em Roma.

As vicissitudes da carreira são cansativas. Maria passa por bateria de testes, aulas de interpretação e de dança, sessão de fotos, demasiado esforço físico e emocional para a criança.  Alberto Annovazzi (Walter Chiari), manhoso empregado de estúdio, interfere para que a aspirante possa conseguir o papel. Desde que ganhe algum dinheiro de Maddalena, alvo da volúpia do rapaz.


Anna Magnani interpreta a mãe em busca do sucesso da filha

A menina chora, enquanto a mãe, tomada pelo afã de atingir o objetivo, continua a batalha. Maddalena, que ama o cinema, sonha com a filha nas telas e com contrato milionário nas mãos. Durante uma cena, Maddalena assiste ao ar livre, ao lado do marido, a Rio Bravo (1948), western com John Wayne e Montgomery Clift.

Belíssima tem momentos cômicos, mas o tom central é o drama. Jamais serão esquecidas as lágrimas de Maddalena e Maria no clímax do longa. Os personagens vivem e sofrem as ilusões desfeitas.

O lado cruel da indústria cinematográfica foi finamente retratado, por exemplo, em Crepúsculo dos Deuses (1950), obra-prima de Billy Wilder. A utilização de atores que atuaram no auge da era muda transmite inigualável realismo à película. Gloria Swanson, Erich von Stroheim e Buster Keaton ressurgem para o espectador.

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

O Leão do Deserto

A atual revolta árabe causa surpresa e expectativa. Tunísia, Egito, Líbia, Iêmen, Síria. O Oriente Médio permanece área de influência das grandes potências. Um filme que ajuda a compreender esse quadro é O Leão do Deserto (Lion of the Desert, Estados Unidos-Líbia, 1981), do sírio Moustapha Akkad. Baseado em fatos verídicos, narra história da intervenção da Itália fascista na Líbia nas primeiras décadas do século 20 e a resistência ao invasor.

O astro Anthony Quinn interpreta Omar Mukhtar, comandante rebelde que, de 1911 a 1931, combateu os italianos. Na década de 20, o sanguinário general Rodolfo Graziani (Oliver Reed) é enviado ao país pelo ditador Benito Mussolini (Rod Steiger). Missão: aniquilar o movimento popular, mesmo que para isso a população civil sofra pesadas represálias. Estupros e assassinatos tornam-se rotineiros.

A infantaria avança no deserto e nas montanhas. Tanques cruzam as terras líbias. Avião lançam bombas. Insurgentes e civis morrem a dezenas, centenas. O caminho da pacificação de Graziani é pavimentado por medo, fogo e destruição. O exército duce, que mostrou ser pífio na Segunda Guerra Mundial, se impõe pela superioridade das armas. Os árabes, com coragem e voluntarismo, combatem o opressor.

Duas cenas impressionam pela qualidade de gravação e realismo. As tropas fascistas penetram no interior do território, até o oásis de Kufra. Centenas de moradores perdem a vida durante o bombardeio e nas execuções sumárias. A área é limpa para que Graziani ostente pompa sobre os cadáveres. Em outra cena, as táticas árabes dão certo e os italianos caem em uma emboscada. O leão do deserto, Omar Mukhtar, surpreende o inimigo.  

Anthony Quinn (centro) volta a interpretar um líder árabe

 Impossível não recordar de Lawrence da Arábia (1962), no qual Anthony Quinn vive o líder tribal Auda abu Tayi. No épico do cineasta David Lean, o Império Otomano, em rápido declínio, cede espaço para as potências imperialistas europeias durante Primeira Guerra Mundial. Outra película que traz diálogo do passado com o presente.