Existem obras que marcam a história da sétima arte. O Encouraçado Potemkin (1925) e Cidadão Kane (1941), narrativas revolucionárias, são exemplos conhecidos. Nesse rol, tem lugar de honra O Gabinete do Doutor Caligari (Das Cabinet des Dr. Caligari, Alemanha, 1919), autêntico manifesto do movimento expressionista no cinema. Nessa corrente estética, fundamental nas décadas iniciais do século 20, o que vale são as emoções subjetivas do artista.
Essa trama de terror, que mistura realidade e alucinação, é caracterizada pelos cenários estilizados, com ângulos distorcidos, com o contraste de cores – o preto e o branco. Dirigido por Robert Wiene e com roteiro de Carl Mayer e Hans Janowitz, o filme tem o elenco encabeçado por Werner Krauss e o lendário Conrad Veidt.
Num vilarejo montanhoso alemão, Holstenwall, o misterioso doutor Caligari (Krauss) chega acompanhado do sonâmbulo Cesare (Veidt), que, segundo aquele, está adormecido há mais de 20 anos. Caligari pede autorização para mostrar a "atração" na feira da cidade. Cesare, ao acordar, mostra-se capaz de prever o futuro.
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Cenários estilizados caracterizam o clássico expressionista |
A partir do primeiro "show", estranhos assassinatos ocorrem. A polícia busca o homicida. Pistas surgem, pistas desaparecem. A tensão da atmosfera aumenta.
O Gabinete do Doutor Caligari representa um dos grandes momentos do cinema mudo, influenciando futuras produções, dentro ou fora da Alemanha. O jornalista e crítico Paulo Paranaguá esclarece, no livro "Cinema na América Latina - Longe de Deus e Perto De Hollywood" (Porto Alegre, L&PM, 1985), a respeito da passagem para a película sonora: "O cinema mudo acabou quando estava no seu auge e não por esgotamento intrínseco. Seu fim obedeceu a causas econômicas, pois sua linguagem havia alcançado altos níveis de expressão, rompendo as amarras com a fotografia, o teatro, o circo".
O trabalho de Wiene é indispensável para o cinéfilo.