quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

O Mais Longo dos Dias

O tema é grandioso. O elenco, idem: John Wayne, Robert Mitchum, Henry Fonda, Richard Burton, Mel Ferrer, Sean Connery, Rod Steiger, Edmond O'Brien, Peter Lawford, Robert Ryan, Sal Mineo, Arletty. O Mais Longo dos Dias (The Longest Day, Estados Unidos, 1962) mostra a dramaticidade e a dimensão do Dia D, a invasão aliada da Normandia, em 6 de junho de 1944, dando início à libertação da França ocupada pelos nazistas.

A superprodução teve três diretores: Ken Annakin, responsável pela parcela britânica; Andrew Marton, pela americana; e Bernhard Wicki, pela alemã. Entre os roteristas, o jornalista Cornelius Ryan, autor do livro – homônimo – que originou o filme, autêntico épico.   O Mais Longo dos Dias venceu o Oscar nas categorias de efeitos especiais e fotografia preto e branco.

A Segunda Guerra Mundial atrevessa o penúltimo ano. Na frente oriental, o Exército Vermelho avança. O colosso soviético esmaga a Wehrmacht, que, ao recuar, deixa rastro de morte, destruição e crimes. No lado ocidental, os aliados buscam uma nova frente. O local escolhido foi a região da Normandia, no Norte da França, a fim de quebrar a Muralha do Atlântico e acelerar o colapso do Terceiro Reich.

A película, de 178 minutos, retrata com precioso realismo a maior operação anfíbia da história.  O assombroso aparecimento da frota aliada no horizonte; as tropas de assalto desembarcando sob fogo intenso; a feroz luta na praia de Omaha e no rochedo de Pointe du Hoc; os paraquedistas que caem no meio da cidade de Sainte-Mère-Église – um deles fica pendurado no telhado da igreja. Estas e outras cenas são conduzidas com maestria, expondo a crueza dos combates e elementos humanos que coexistem no calor da batalha – coragem, medo, audácia, determinação.

Dia D foi levado às telas em superprodução de 1962

As melhores sequências de O Resgate do Soldado Ryan (1998), de Steven Spielberg, ocorrem no momento nas areias normandas. Com recursos modernos, Spielberg recria, de forma sensacional, o desembarque aliado.

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Lola Montès

Lola Montès (Lola Montès, França, 1955), do diretor alemão Max Ophuls, causou perplexidade quando foi lançado. Narrativa barroca e fragmentada, o drama desenha a trajetória da dançarina exótica e cortesã do século 19 Lola Montez (Martine Carol), que colecionou amantes como outras arrecadam joias. O compositor Franz Liszt e o rei da Baviera Luís I estão no rol das conquistas mais conhecidas.

A história de Lola é contada em um picadeiro, desde a adolescência difícil até o apogeu e queda. O mestre de cerimônias, interpretado por Peter Ustinov, afirma que a personagem, mulher dotada de extrema beleza, é mais perigosa do que qualquer fera enjaulada no circo. Autêntica femme fatale, ela sabe utilizar a sedução para sobrevivier e triunfar na vida.

Vida da famosa dançarina foi contada em um picadeiro

Por padrões conservadores – mesmo atuais –, a vida de Lola feriu padrões de comportamento. Além da existência amorosa agitada, provocou polêmica ao adotar o estilo flamenco e  fumar charutos – foi a primeira mulher na Europa a consumir os cubanos. Assim como astros da música pop, Lola sabia que o escândalo, a provocação, também gera dinheiro.

As cenas que envolvem Lola e o monarca são marcantes. Merecem menção duas. Primeiro, aquela em que o governante escolhe, com critério sui generis, o artista que pintará o quadro da musa, nomeada condessa de Landsfeld. Depois, a da agitação revolucionária de 1848, a chamada Primavera dos Povos.

Max Ophuls, nascido Maximillian Oppenheimer  em 1902, na Alemanha, foi um grande esteta do cinema, da mesma maneira que Luchino Visconti. Tal qual o italiano,  dedicou-se ao teatro. Ophuls assinou clássicos da tela, como Carta de Uma Desconhecida (1948) e Coração Prisioneiro (1949). Com o advento do nazismo, saiu da Alemanha. Lola Montès foi seu último filme.

quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Esses Homens Maravilhosos e Suas Máquinas Voadoras

Comecei o ano de 2014 bem: revi a leve e empolgante comédia Esses Homens Maravilhosos e Suas Máquinas Voadoras (Those Magnificent Men in Their Flying Machines or How I Flew from London to Paris in 25 hours 11 minutes, Reino Unido, 1965). Dirigido por Ken Annakin, o filme narra a corrida aérea entre Londres e Paris em 1910, nos tempos da aviação primitiva. À época, atravessar pelo ar o canal da Mancha,  porção de água que separa as terras britânicas das francesas, representava grande feito para frágeis aparelhos.

O proprietário de um jornal britânico decide patrocinar uma disputa com os principais aviadores do mundo. O vencedor ganha dez mil libras esterlinas. Comparecem os representantes da Inglaterra, Richard Mays (James Fox), dos Estados Unidos, Orvil Newton (Stuart Whitman), da Itália, conde Emilio Ponticelli (Alberto Sordi), da França, Pierre Dubois (Jean-Pierre Cassel), da Alemanha, coronel Manfred von Holstein (Gert Fröbe, o Goldfinger da série 007), e outros. Entre eles, o impagável vilão sir Percy Ware-Armitage, interpretado por Terry-Thomas – Dick Vigarista é inspirado no típico personagem do ator. Além do prêmio, o inglês e o americano disputam o amor da esperta Patricia Rawnsley (Sarah Miles), filha do empresário.

Aeronaves estranhas estão prontas para decolar... ou nem tanto. Em ritmo burlesco, ocorrem uma sequência trapalhadas, com acidentes risíveis. A música e o enlouquecido carro dos bombeiros transportam o espectador para o picadeiro. Nessa atmosfera circense, o cineasta homenageia as comédias  mudas dos anos 10.

Ator Terry-Thomas interpreta inesquecível vilão

Nesse "protótipo" do desenho Corrida Maluca, os melhores momentos ficam por conta das trapaças de sir Percy e dos embustes que a equipe francesa aplica na germânica, composta por "legítimos soldados e oficiais prussianos".

Após o sucesso da película, Annikin realizou Os Intrépidos Homens e Seus Calhambeques Maravilhosos, em 1969. Com Tony Curtis, Jack Hawkins e Terry-Thomas  no elenco, a versão de rali não teve o mesmo êxito do seu ancestral.