quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

A Cor da Romã

Na década de 1960, desvencilhado das exigências do realismo socialista – movimento artístico oficial do regime soviético –, o cineasta  Sergei Paradjanov realiza A Cor da Romã (União Soviética, 1968), filme de extraordinário vigor estético. A obra narra, de forma simbólica, a história de Sayat-Nova, poeta, músico e trovador místico cristão armênio do século 18. Porém, como explica o realizador na introdução, é uma história sobre a dimensão interior do bardo.

O longa é dividido em partes bem delimitadas, destacando-se a infância, a juventude, a permanência no monastério e a morte do personagem. Cada enquadramento tem profundo apuro pictórico. Na sequência de abertura, aparecem, sobre a toalha branca, três romãs derramando o suco vermelho e um punhal manchado de sangue.  

Além do concerto de imagens e sons, Paradjanov usa trechos da obra de Sayat-Nova para articular as fases da vida do monge.  "Eu sou o homem cuja vida e alma são tortura." Ou "estou vagando, queimado e ferido, e não encontro refúgio (...)".


Concerto de imagens e sons, o filme conta a vida de um poeta armênio

Pela abordagem cinematográfica heterodoxa e por valorizar a diversidade étnica, A Cor da Romã sofreu censura das autoridades soviéticas. Acusado de homossexualismo e de "propagar a pornografia", Paradjanov foi condenado em 1973 a cinco anos de trabalhos forçados na Sibéria. Intelectuias e ativistas políticos se manifestaram pela libertação. Entre eles, os cineastas Luis Buñuel, Jean-Luc Godard e François Truffaut. Paradjanov voltou a filmar em meados dos anos 80.

Filhos de armênios, Paradjanov nasceu em 1924, na cidade de Tiflis, atual Tbilisi, na Georgia. Morreu em 1990. Deixou forte legado artístico.

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