Mestre do cinema nipônico, Akira Kurosawa realizou peculiar
adaptação da tragédia Rei Lear, de William Shakespeare. Ran (França-Japão,
1985), de imagens esplêndidas, é um trabalho de forte carga humanista.
No Japão feudal, o idoso senhor da guerra Hidetora Ichimonji
(Tatsuya Nakadai) decide repartir seus domínios entre os três filhos – no livro,
são filhas. Insuflados pela nova perspectiva, Taro e Jiro, os mais velhos,
aceitam o legado. Saburo, o caçula, rejeita a divisão. Ele aponta que o ato
colocaria em risco a segurança do pai. Após discussão, Hidetora bane Saburo.
Logo, o temor do benjamim se concretiza. Preocupados com a
influência que o ancião ainda exerce, os desleais Taro e Jiro vão retirar os
símbolos de dignidade de Hidetora, levando-o à loucura. Ambos lutarão pelo
poder no clã.
O exilado Saburo, único a amar o pai, enfrentará riscos para
salvar Hidetora. Sem lar e senil, o antigo samurai vaga sem destino certo,
acompanhado pelo bobo da corte. Triste velhice de um homem abandonado.
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Kurosawa realizou bela versão de Rei Lear |
As cenas de batalha são sensacionais. Momentos de ação e de grande dramaticidade se alternam. Com sonoplastia e enquadramento perfeitos, Kurosawa mostra todo o vigor de sua arte. A aguda preocupação com as cores é traço marcante na obra. O longa recebeu o Oscar de Melhor Figurino em 1986.
A postagem sobre Ran encerra esse ciclo sobre cinema e
Shakespeare. Futuramente, o blog analisará duas versões para a tela grande de
outra notável tragédia shakespeariana, Macbeth. Os dois filmes: Macbeth -
Reinado de Sangue, de Orson Welles, e A Tragédia de Macbeth, de Roman
Polanski.
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